“Vocês viram o que aconteceu em Busha”, disse Biden, acrescentando que Putin "é um criminoso de guerra".
Os comentários de Biden a jornalistas surgiram após o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ter visitado Busha, cidade vizinha da capital Kiev, onde autoridades ucranianas dizem que foram encontrados cadáveres de civis, incluindo em valas comuns.
Zelensky classificou as ações russas de “genocídio” e pediu que o Ocidente aplique sanções mais duras contra a Rússia.
Biden, no entanto, não chegou a qualificar as ações de genocídio.
Dezenas de civis mortos foram encontrados em Busha, uma cidade a 60 quilómetros de Kiev, espalhados na rua, nalguns casos com as mãos amarradas nas costas e atirados em valas comuns, tendo as autoridades ucranianas e os seus aliados acusado os soldados russos de terem cometido esses crimes.
Moscovo rejeitou em absoluto qualquer responsabilidade e disse que foi feita uma encenação por Kiev.
Algumas imagens foram mostradas depois de as autoridades terem admitido estarem a fazer vídeos para documentar provas dos alegados crimes de guerra, provocando uma condenação internacional quase unânime.
O conselheiro do Presidente ucraniano Oleksiy Arestovych considerou as imagens como uma “cena de um filme de terror”, referindo que algumas pessoas estavam amarradas e baleadas na cabeça e que os corpos mostravam sinais de tortura, existindo ainda relatos de violações.
“Temos que continuar a fornecer à Ucrânia as armas necessárias para continuar a luta e temos que reunir todos os detalhes para que isso possa ser real – ter um julgamento por crimes de guerra”, disse Biden.
"O que está a acontecer em Busha é ultrajante e todo o mundo é testemunha disso", acrescentou o chefe de Estado norte-americano.
Biden observou que enfrentou reações negativas no mês passado quando descreveu Putin como um criminoso de guerra pelo ataque em curso na Ucrânia, depois de hospitais e maternidades terem sido bombardeados. Nas suas declarações de hoje, Biden deixou claro que o rótulo ainda se aplica.
“Esse homem é brutal e o que está a acontecer com Busha é ultrajante, e todo mundo viu”, disse Biden.
As investigações sobre as ações de Putin começaram antes das novas alegações de atrocidades fora de Kiev.
Também a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, escreveu hoje na rede social Twitter que a União Europeia enviará investigadores à Ucrânia para ajudar o procurador-geral local a “documentar crimes de guerra”.
Os Estados Unidos da América e mais de 40 outros países estão a trabalhar conjuntamente para investigar possíveis violações e abusos, após a aprovação de uma resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas para estabelecer uma comissão de inquérito.
Há outra investigação em curso no Tribunal Penal Internacional, um órgão independente com sede em Holanda.
Enquanto isso, a principal enviada de Biden às Nações Unidas, a embaixadora Linda Thomas-Greenfield, anunciou hoje que os EUA procuram suspender Rússia do seu assento no principal órgão de direitos humanos das Nações Unidas, na sequência de mais indicações de que as forças russas podem ter cometido crimes de guerra na Ucrânia. Isso exigiria uma decisão da Assembleia-Geral da ONU.
A Rússia e os outros quatro membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas – Reino Unido, China, França e Estados Unidos – atualmente têm assentos neste conselho de 47 estados-membros, com sede em Genebra. Os Estados Unidos voltaram ao conselho este ano.
A Rússia lançou, na madrugada de 24 de fevereiro, uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.276 civis, incluindo 115 crianças, e feriu 1.981, entre os quais 160 crianças, segundo dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 4,21 milhões de refugiados para os países vizinhos e cerca de 6,5 milhões de deslocados internos.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Lusa