José Sócrates vai julgamento no processo Operação Marquês por branqueamento de capitais e por três crimes de falsificação de documentos, segundo a decisão instrutória hoje lida pelo juiz Ivo Rosa, que afastou a corrupção passiva, por estar prescrita.
Na noite eleitoral de 05 de junho de 2011, em que perdeu as eleições legislativas para o PSD, José Sócrates foi confrontado pela Rádio Renascença sobre se receava que a derrota abrisse caminho a novos processos judiciais ou acelerasse outros em que o seu nome chegou a ser mencionado, como o caso Monte Branco.
Na resposta à pergunta, em que a jornalista foi apupada pela assistência de militantes e dirigentes socialistas, José Sócrates disse que “a justiça nada tem a ver com a política” e que o seu desejo “é viver num país em que essa separação esteja absolutamente ao serviço do Estado de Direito”.
Com um salto no tempo de dois anos e meio, na sexta-feira 21 de novembro de 2014, José Sócrates foi detido à chegada ao aeroporto de Lisboa, vindo de Paris, para onde foi estudar e viver depois de deixar o Governo e a política ativa, na sequência da derrota eleitoral de 2011.
“Suspeitas dos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção” eram os crimes em investigação pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e o processo, batizado de Operação Marquês, arrasta-se desde então. Carlos Santos Silva, amigo de Sócrates e dono do grupo Lena, e João Perna, motorista do antigo líder do PS, são os outros arguidos.
Seguem-se semanas, meses e anos de polémica em que Sócrates passou quase um ano detido – 288 dias em prisão preventiva, no estabelecimento prisional de Évora e mais 42 dias em prisão domiciliária, em Lisboa.
E é a Évora que se deslocam, numa base quase diária, dirigentes e militantes socialistas. O primeiro é o fundador e líder histórico do PS Mário Soares, que considera que o ex-primeiro-ministro está a ser vítima de “um caso político” e de “uma campanha que é uma infâmia”.
Mal pôde falar, Sócrates tentou, desde o início, desvalorizar todo o processo, utilizando frases duras, como “o Ministério Público construiu um embuste, uma mentira, uma grande mentira” ou que a “acusação é uma mentira, uma injustiça e completamente absurda”.
A carreira política de José Sócrates começou em 1981, quando aderiu ao PS. Dois anos depois ganhou por poucos votos a liderança da federação socialista de Castelo Branco contra os soaristas, cargo em que permaneceria até 1995.
Considerado parte da nova geração de socialistas que alcançou o poder com a ascensão de António Guterres a primeiro-ministro, apoiou o atual secretário-geral das Nações Unidas contra Jorge Sampaio na disputa da liderança do PS, em 1992.
Com a vitória de Guterres nas legislativas de 1995, foi nomeado secretário de Estado do Ambiente, passando depois, em 1997, a ministro-adjunto para a Juventude, Toxicodependência e Desporto. Foi nomeado ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território, em 1999, chegando a secretário-geral do PS em 2004, sucedendo a Ferro Rodrigues.
Nas legislativas de fevereiro de 2005, o PS conseguiu a primeira a até agora única maioria absoluta, mas nas eleições de 2009 ficou em maioria relativa e vê-se forçado a formar um governo minoritário, em plena crise financeira mundial, que o levou a apresentar sucessivos pacotes de austeridade.
Com os votos do PSD, viu a Assembleia da República aprovar três PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento) do seu Governo, mas aquilo a que os socialistas chamaram uma "coligação negativa" entre PSD, CDS, BE e PCP chumbou o PEC IV, em 23 de março de 2011. Demitiu-se no mesmo dia.
Duas semanas depois, pediu formalmente ajuda externa à ‘troika’, depois de ter negado, reiteradamente, que Portugal precisasse de um resgate financeiro. Sempre disse que o resgate teria sido evitado com a aprovação do PEC IV.
Após a derrota eleitoral de 2011, Sócrates mudou-se para França, para estudar ciências políticas em Paris, e só voltaria à vida pública nacional em março de 2013, quando começou a fazer um comentário político semanal na RTP.
José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa nasceu em Vilar de Maçada, Alijó (distrito de Vila Real) em 06 de setembro de 1957. Licenciou-se engenharia civil pela Universidade Independente, um licenciatura envolta em polémica.