O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, padre Agostinho Jardim Moreira, criticou hoje, no Funchal, a falta de políticas governamentais para a inclusão, vincando que o número de pobres em Portugal mantém-se igual há quatro décadas.
"Desde o 25 de Abril mudam os governos, mas as políticas mantêm-se. Mantemos sempre os índices estatísticos [da pobreza] entre os 18% e os 20%. Isto é, andamos a manter dois milhões de pobres no país. Isto não é política", alertou.
Agostinho Jardim Moreira falava aos jornalistas após a assinatura de um protocolo com a Câmara Municipal do Funchal, que concede à Rede Europeia Anti-Pobreza um apoio de 20 mil euros para criar um programa de formação e elaborar um diagnóstico da situação no município.
"Pretendemos uma Europa de cidadãos, uma Europa de dignidade, uma Europa de toda a pessoa humana", realçou, acentuando que as situações de pobreza em que caiem as pessoas resultam de "injustiças", muitas vezes "institucionais", e também do "modelo político que temos".
O responsável evocou, por outro lado, um relatório da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico – que indica que são necessárias cinco gerações para tirar uma pessoa da pobreza em Portugal, situação que, segundo disse, "devia envergonhar-nos".
"Não queremos alimentar a pobreza. Queremos tirar as pessoas da pobreza", realçou, sublinhando que a Rede Europeia é "apartidária e aconfessional" e opera diretamente no terreno, numa "observação científica independente" e em colaboração com "todas as entidades".
O presidente da Câmara Municipal do Funchal, Paulo Cafôfo, disse, por seu lado, que o protocolo com a Rede Europeia Anti-Pobreza vai "ajudar a dar substância" às políticas sociais da autarquia.
"Com a vossa experiência, termos uma ajuda em termos de consultadoria e de formação, para lidarmos de uma forma profissional e consciente [com as situações de pobreza] e elaborar um diagnóstico que nos garanta um conhecimento mais profundo da realidade no concelho", afirmou.
LUSA