Em comunicado, o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) da Universidade do Porto explica hoje que a segunda fase do inquérito, designado ‘Life with Corona’, lançado há cerca de seis meses, pretendia “continuar a avaliar o impacto social e económico da pandemia a nível mundial”.
“Tentamos perceber os efeitos psicológicos que a pandemia e as medidas preventivas têm tido sobre as pessoas”, afirma, citada no documento, Liliana Abreu, investigadora portuguesa na Universidade de Constança (Alemanha) e que colabora com o i3S através do estudo.
Até 04 de março, o estudo recebeu 21.552 respostas de participantes de 136 países, sendo que, “até ao momento, Portugal é o segundo país com mais participações” no estudo, depois da Alemanha.
Os dados obtidos mostram que “uma parte considerável da população apresenta sintomas ligeiros de depressão” e cerca de 50% dos inquiridos de Portugal, Argentina, Indonésia, Reino Unido e Estados Unidos, bem como 40% dos alemães, “revelam sintomas mais graves de depressão”.
“A geração mais jovem e as famílias com filhos são os mais afetados”, salienta o i3S, acrescentando que uma das causas identificadas se prende com “a diminuição dos rendimentos mensais”.
“Percebemos também, ao contrário do que se pensava, que os mais jovens são mais propensos a apresentar níveis mais elevados de depressão em comparação com os mais velhos, o que expõe o fardo adicional que as gerações mais jovens estão a sofrer”, refere Liliana Abreu, que já foi investigadora no i3S.
Os dados provenientes de Portugal, semelhantes aos obtidos nos restantes países, mostram ser “evidente que a saúde mental foi fortemente afetada pela pandemia”.
“Só o facto de ter sintomas da doença pode desencadear problemas de saúde mental. Isto sugere que o medo de estar doente com covid-19 pode estar a causar níveis mais elevados de ‘stress’”, salientam os investigadores.
Neste momento, os investigadores estão a comparar como reagem aqueles que vivem sozinhos e os que vivem com outros, bem como aqueles que vivem com crianças dos que não vivem.
Os dados já disponibilizados no ‘site’ do estudo indicam que as pessoas que vivem sozinhas “emergem como o grupo que teve as piores experiências durante a pandemia”, sendo também os mais “propensos a relatar níveis mais baixos de satisfação de vida”.
Já os indivíduos que vivem com outra pessoa têm “lidado melhor com a pandemia” e têm “menos probabilidades de sentir depressão, ansiedade ou demonstrarem comportamentos agressivos”.
Paralelamente, aqueles que vivem com crianças “têm os piores indicadores de consumo alimentar”, sendo mais provável que tenham “experimentado maiores tensões entre os membros” do agregado.
O estudo, que visa “gravar as vozes e experiências dos cidadãos de todo o mundo durante este período invulgar”, está traduzido em 27 línguas, sendo que o inquérito continua em curso até, pelo menos, finais de 2021.
Citada no comunicado, Maria Rui Correia, investigadora do i3S responsável por disseminar o projeto em Portugal, apela à participação dos portugueses, defendendo que só assim “se consegue uma imagem real do que se passa” na população.
A iniciativa ‘Life with Corona’ partiu de uma equipa de investigadores do Centro de Segurança e Desenvolvimento Internacional (ISDC), na Alemanha, do Instituto Mundial de Investigação em Economia do Desenvolvimento da Universidade das Nações Unidas (UNU-WIDER), na Finlândia, do Instituto Leibniz de Culturas Vegetais e Ornamentais (IGX), na Alemanha, e do Instituto de Estudos de Desenvolvimento (IDS), no Reino Unido.
Além do i3S, o projeto conta com a participação de instituições e organizações de vários países.
C/Lusa