Chama-se ‘Science For Ukraine’ e conta com milhares de posições em todo o mundo para que investigadores e estudantes empurrados pela guerra para fora da Ucrânia possam continuar o seu trabalho.
A ideia partiu de duas investigadoras na Letónia e cresceu rapidamente, merecendo o apoio da Europa. No ‘site’ (https://scienceforukraine.eu/) um mapa mundo cinzento preenche-se de pontos azuis que assinalam as ofertas disponíveis, com os contactos necessários, e enchem o continente europeu, repetindo-se também pelos Estados Unidos, Canadá e até Japão.
“Felizmente, a solidariedade não tem limites”, elogiou Inês Figueira, investigadora na Faculdade de Medicina da Universidade Nova de Lisboa e responsável por agregar toda a informação referente a Portugal.
Em Portugal, já se juntaram à iniciativa cinco institutos: o Centro de Estudos de Doenças Crónicas, o Instituto de Medicina Molecular, a Fundação Champalimaud, o Instituto Gulbenkian de Ciência e o Instituto de Biotecnologia Experimental e Tecnológica) e mais de 30 posições.
“O número está sempre a crescer”, disse a investigadora responsável, exemplificando que além daquelas cinco também o Instituto Superior Técnico se disponibilizou para receber refugiados.
Do outro lado, na segunda-feira já tinham sido contactados dois dos muitos investigadores que partilharam ofertas na plataforma, mas Inês Figueira antecipa um aumento nos próximos dias, uma vez que “até há bem pouco tempo as pessoas estavam a tentar não sair do país”.
“Neste momento há muita gente a tentar sair, principalmente investigadores de outras nacionalidades que estavam na Ucrânia e que estão a tentar voltar ou ao seu país de origem ou para outros institutos”, sustentou.
No caso dos investigadores, o objetivo é que possam continuar o trabalho que estavam a desenvolver na Ucrânia ou que se juntem a novos projetos, e a duração das propostas portuguesas é, na maioria dos casos, para períodos superiores a seis meses, com alguns laboratórios a abrirem vagas para três anos.
“Não sabemos até que ponto é que os laboratórios ou as universidades na Ucrânia vão subsistir e mesmo que a guerra acabasse hoje não poderíamos voltar aos seus trabalhos amanhã”, sublinhou Inês Figueira.
Além das pessoas que saem da Ucrânia, a responsável revelou que também têm recebido pedidos de investigadores que estão a tentar sair da Rússia.
“Não imaginávamos a dimensão que isto ia tomar, mas não podemos de forma alguma limitar as ofertas. Por isso, a ‘Science for Ukraine’ também permitirá esse diálogo e se houver investigadores vindos da Rússia e que precisem, não vamos fechar as portas”, assegurou.
Para os estudantes, as possibilidades incluem vagas para estágios curriculares ou profissionais e disponibilização de alojamento em residências universitárias.
Para a continuidade dos estudos, o acolhimento de estudantes ucranianos pelas instituições de ensino superior nacionais está a ser coordenado pela Agência Erasmus+ e foi criado um grupo de trabalho, com representantes das instituições e da comissão nacional de acesso.
Segundo o Ministério do Ensino Superior e Ciência, foi efetuado um levantamento preliminar da disponibilidade das instituições para "a frequência de ciclos de estudo, assim como para cursos (prévios) de língua portuguesa e, sobretudo, o apoio para o alojamento de potenciais futuros estudantes em eventual articulação com municípios".
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 406 mortos e mais de 800 feridos entre a população civil e provocou a fuga de mais de dois milhões de pessoas para os países vizinhos, segundo os mais recentes dados da ONU.
Lusa