“Faço isto para não ter de roubar ninguém. A partir daqui consigo comprar crédito [saldo do telemóvel] e Internet para sustentar os meus estudos e fazer outras coisas”, conta à Lusa.
Sentado na paragem de transportes coletivos, enfrenta a azáfama da Praça dos Combatentes em busca de clientes há quase quatro anos, na ambição de conseguir financiar os seus próprios estudos.
“Com o coronavírus, nada está a andar. Está difícil para mim pagar as mensalidades da escola. Está tudo parado. Por vezes tenho de fazer empréstimos para pagar a mensalidade”, lamentou.
Apesar do futuro incerto, para Fabião, mais do que um negócio para escapar ao desemprego, cuidar das unhas é uma “arte”.
“Eu considero o meu trabalho uma arte. A arte que eu tenho nas mãos e que estou a partilhar com outras pessoas”.
Foi a mesma “arte” que conquistou Bibi de Fátima, uma entre várias mulheres moçambicanas que preferem recorrer à manicure de rua em Maputo.
“Eu faço as unhas aqui porque gosto do trabalho deles, são acessíveis e são simpáticos. Por isso eu opto por eles”, diz, enquanto espera pelo autocarro.
De pé esticado, observa a arte de Fabião, dedo a dedo, imune à agitação em redor, na Praça dos Combatentes.
Belgito Carlitos, 24 anos, fugiu da fome no interior de Inhambane em 2014 e hoje, em Maputo, ganha a vida como manicure de rua.
O sonho de uma vida melhor na capital começou na infância sofrida nos subúrbios de Inhambane, a 478 quilómetros da capital, e não tardou até Carlitos descobrir uma vocação: cuidar das unhas dos pés e das mãos dos seus clientes – apesar do estigma e preconceito que os homens sofrem neste tipo de profissão, principalmente no meio rural.
“Comecei observando o que os outros faziam. Primeiro vendi brincos [nas ruas de Maputo] e depois comecei a pintar unhas. Hoje, já sou profissional”, diz de peito cheio à Lusa, enquanto trata de uma das suas clientes.
Simples, rápido e barato, com os preços a variarem entre cinco meticais (0,06 cêntimos de euro) e 250 meticais (três euros), o tratamento de Belgito é quase sempre banhado de cores.
Após quase oito anos, diz que é famoso no seu bairro – até já conseguiu instalar um pequeno salão no interior de Laulane, subúrbios de Maputo.
Mas com o impacto das restrições impostas pela pandemia de covid-19, os clientes estão a desaparecer e as contas começam a apertar.
“Antes do coronavírus, conseguíamos tratar, por dia, 10 a 15 pessoas, mas agora não estamos a conseguir muito dinheiro”, diz, acrescentando, no entanto, que “ainda dá para pagar a renda” de casa que divide com os seus colegas.