Numa mensagem de Francisco dirigida ao presidente da 26.ª cimeira do clima das Nações Unidas lida pelo secretário de Estado da Santa Sé, Pietro Parolin, o Papa apontou que em relação aos povos mais vulneráveis há "uma dívida ecológica crescente relacionada com desequilíbrios comerciais com repercussões ambientais".
"Essa dívida ecológica traz a questão da dívida externa, um fardo que tantas vezes prejudica o desenvolvimento dos povos", considerou o Papa, que defendeu "um processo cuidadosamente negociado para perdoar as dívidas externas, ligado a uma mais jutsa e sustentável reestruturação económica para enfrentar a emergência climática".
"Infelizmente, temos que reconhecer que estamos muito longe de atingir os objetivos [do Acordo de Paris para limitar o aumento da temperatura média global até ao fim do século]. Isto não pode continuar assim. Não há tempo a perder. Demasiados irmãos e irmãs nossas estão a sofrer com esta crise do clima", salientou.
Francisco afirmou que só se consegue cumprir Paris apontando para objetivos "ambiciosos que não pode mais ser adiados".
"Estamos perante uma mudança de época que exige compromissos de todas as partes", referiu, considerando que "a Humanidade tem capacidade de fazer estas mudanças".
A Santa Sé defende "a necessidade urgente de mudar de uma cultura de desperdício prevalecente na sociedade para uma cultura de cuidado da casa comum e dos seus habitantes".
Da sua parte, compromete-se com a meta de atingir a neutralidade de emissões carbónicas em 2050, de promoção da educação ambiental e de "um modelo cultural baseado na sustentabilidade e na fraternidade".
Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, ativistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.