O documento, encomendado pelo arcebispado a uma equipa de advogados e apresentado hoje, regista que Joseph Ratzinger não agiu quando devia para impedir os casos apontados, acusações que o Papa emérito tem refutado "contundentemente".
O relatório contempla centenas de casos de abuso sexual ocorridos dentro da Igreja Católica alemã, incluindo naquela arquidiocese onde Ratzinger foi arcebispo entre 1977 e 1982, desde o período pós-guerra até praticamente ao presente.
O documento culpa sucessivas hierarquias da Igreja por não terem agido para os travar, no mínimo, ou mesmo de os encobrir.
Os advogados que apresentaram o relatório adjetivaram como um "equilíbrio de horrores" a sua análise dos casos de abuso que abordaram no estudo.
Em dois dos casos atribuídos ao período em que Ratzinger estava à frente daquele arcebispado, os abusos foram alegadamente cometidos por dois clérigos que prestaram assistência espiritual e contra os quais nunca foram tomadas quaisquer medidas.
Os responsáveis pelo relatório consideram "pouco credível" a reação do agora Papa emérito, que rejeita as acusações, sustentando que não viram por parte de Ratzinger "nenhum interesse reconhecível" em agir contra os abusadores.
Os investigadores estão convencidos de que Ratzinger teve também conhecimento do caso de um pároco, identificado como Peter H., que em 1980 foi transferido do bispado de Essen para Munique depois de ter sido acusado de ser pedófilo e que no seu novo lugar continuou a cometer abusos.
Os advogados consideram a alegação de Ratzinger de que não estava presente na reunião em que a transferência foi decidida como "não credível".
Ulrich Wastl, um dos advogados, disse que cabia nas funções de Ratzinger "conhecer os acontecimentos" e que "muito provavelmente" ele sabia o que se passava.
Os autores do relatório lamentaram a ausência, na conferência de imprensa de apresentação do documento, do atual cardeal de Munique, Reinhard Marx, que em 2008 encomendou um relatório psiquiátrico sobre Peter H., embora não tenha aberto uma investigação interna.
Marx pediu no ano passado a sua demissão, rejeitada pelo Papa Francisco, como gesto de repúdio pelos abusos de menores cometidos na Igreja Católica.
Espera-se que o cardeal se pronuncie hoje à tarde sobre o conteúdo do relatório.