Pedro Farias, de profissão padeiro e natural de Aveiro, é um dos 25 portugueses que residem em Tovar e Zea, localidades onde pelo menos 20 pessoas morreram na última semana, devido às chuvas torrenciais que desencadearam deslizamentos de terra, derrocadas e inundações naqueles municípios.
“Quando vi as minhas filhas foi como nascer de novo. Elas estavam a fazer um curso de ‘chef’ [de cozinha] em El Peñón [povoação vizinha] e estava a chover muito. Graças a Deus que ficaram bloqueadas, que ficaram lá”, explicou à agência Lusa.
Pedro Farias insistiu que “tinha muito temor por não saber delas [das filhas]” e porque em 1999 houve outra grande tempestade que afetou outra região do Estado de Mérida.
Segundo este padeiro, uma vez em casa as filhas fizeram mais de uma centena de “arepas” (espécie de bola de milho que depois é aplanada, cozida e recheada que substitui o pão do pequeno-almoço) que distribuíram entre as pessoas que perderam as suas casas.
“Há uma parte de Tovar muito afetada (…) está indescritível para quem conhece isto antes e vê agora”, frisou.
Segundo Pedro Farias, o mau tempo foi mais forte na noite de segunda para terça-feira, altura em que “caiu” o serviço de telecomunicações e a eletricidade.
“Já restabeleceram o telefone, mas continuas sem serviço elétrico”, frisou, precisando que usaram a gasolina das viaturas para um gerador que usam para o funcionamento da casa e para carregar a bateria do telemóvel”, explicou.
Explicou ainda que “tem chovido, mas não tão forte” e que as autoridades “abriram precariamente uma estrada”.
Farias lamenta que o mau tempo agrave a “já difícil situação do país” em particular em Tovar, localidade que diz “está um pouco esquecida” e com problemas de infraestruturas.
“Mas, agora, falta praticamente tudo. As pessoas perderam as suas casas, os utensílios do lar, frigoríficos, cozinhas e muita gente ficou na rua”, desabafou.
Sobre os outros portugueses de Tovar e Zea, explicou que conseguiu saber que estão bem, que “não há afetados” entre a comunidade lusa local.
Pedro Farias fez finca-pé em afirmar que a cônsul honorária de Portugal em Mérida, Aurister Pinto tem sido “um anjo especial, uma mão amiga. Tem estado preocupada, em contacto com os portugueses, enviado mensagens e é muito colaboradora”.
Em 26 de agosto, pelo menos 25 portugueses e lusodescendentes ficaram sem eletricidade, comunicações móveis e parcialmente isolados nos municípios de Tovar e Zea, devido ao mau tempo que afeta o estado venezuelano de Mérida.
Segundo a cônsul honorária de Portugal em Mérida, Auristher Pinto, trata-se de três agregados familiares, com filhos luso-venezuelanos e seus descendentes, que se dedicam ao comércio, à panificação e à agricultura.
Nos municípios de Tovar e Zea, explicou, chuvas torrenciais provocaram deslizamentos de terra e fortes correntes de água nos rios e ribeiros.
Auristher Pinto explicou ainda que conseguiu saber que estes portugueses estavam bem, nas suas casas, mas “parcialmente isolados” uma vez que “apenas motorizadas e viaturas com dupla tração [tração nas quatro rodas] podem chegar” a essas localidades, porque “a torrente levou a estrada”.
“Eles [os afetados] estão a pedir que lhes seja enviada ajuda por via área, principalmente alimentos não perecíveis, água, roupa e medicamentos”, disse Pinto, precisando que a Arquidiocese de Mérida, a Cruz Vermelha, a Cáritas e o Clube Rotary estão a fazer eco desse pedido.
Dados provisórios dos serviços de Proteção Civil dão conta que “mais de 600 casas” foram totalmente destruídas e outras 804 parcialmente danificadas.