“O nosso cliente foi indicado por ter produzido declarações e criticado as autoridades russas por três ocasiões no decurso de iniciativas públicas em Lisboa, Helsínquia e Washington”, indicou o seu advogado Vadim Prokhorov, citado pela agência noticiosa russa TASS.
“As suas intervenções em nada ameaçaram [a segurança da Rússia], são críticas públicas”, acrescentou, precisando que as acusações são rejeitadas por Kara-Murza, que já permanece detido por criticar a ofensiva militar na Ucrânia.
De acordo com a TASS, o destacado opositor e antigo jornalista foi acusado de desacreditar as Forças Armadas russas com base no artigo 275 do Código Pena russo, e na presença dos seus advogados.
Os investigadores do Serviço Federal de Segurança (FSB), os serviços de informações russos, consideram que Kara-Murza há muito que “coopera com um dos países da NATO”, precisou a TASS, que não forneceu mais detalhes.
O crime de “alta traição” é passível de 20 anos de prisão, mas a sentença pode ser agravada caso o suspeito seja alvo de várias atas de acusação. Kara-Murza já foi indiciado por dois outros casos penais.
Em abril, foi detido em Moscovo após ter criticado a ofensiva na Ucrânia, em particular nas redes sociais, e inculpado por “difusão de falsas informações” sobre as Forças Armadas russas, um crime passível de dez anos de prisão.
Em agosto, durante a sua detenção, foi acusado de ter trabalhado para uma organização considerada “indesejável” na Rússia, ao organizar em 2021 em Moscovo uma conferência sobre presos políticos.
Vladimir Kara-Murza, 41 anos, é uma das últimas figuras da oposição russa que ainda se encontra no país.
O ex-jornalista pertencia ao círculo próximo do opositor Boris Nemtsov, assassinado em Moscovo em 2015, e também trabalhou para a organização de Mikhail Khodorkovski, o ex-oligarca que no exílio se tornou acérrimo crítico do Presidente Vladimir Putin.
Kara-Murza garante ter sido envenenado por agentes russos em duas ocasiões, em 2015 e 2017, devido às suas atividades públicas.
Na terça-feira, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (CEDH) condenou Moscovo por ter anulado a candidatura de Vladimir Kara-Murza às eleições na Rússia pelo facto de possuir dupla nacionalidade russa e britânica.
O opositor possui nacionalidade russa desde o seu nascimento e obteve a nacionalidade britânica após se ter instalado no Reino Unidos aos 15 anos, juntamente com sua mãe.