Segundo as autoridades regionais, as chegadas de migrantes atingiram um pico particularmente intenso desde que começou o mês de outubro, somando 5.244 pessoas em 11 dias, o que representa 25% do total do ano.
Os últimos dados oficiais correspondem à manhã de segunda-feira, quando havia 19.507 migrantes irregulares no arquipélago espanhol das Canárias, dos quais 4.371 tinham sido resgatados desde o início do mês.
No entanto, os serviços de emergência anunciaram na terça-feira a chegada ao arquipélago de mais barcos, com um total de 674 pessoas a bordo (412 desembarcaram em El Hierro, 193 em Tenerife e 69 em Lanzarote) e, na madrugada de hoje, a guarda marítima resgatou outras 199, tendo levado 137 para a Gran Canária e 62 para Fuerteventura.
A dois meses e meio do final do ano, as chegadas de migrantes às Canárias já ultrapassaram o total de todo o ano de 2022 (15.862) e estão próximas dos dados dos anos de 2020 e 2021, que foram mais intensos, com 23.271 e 22.316 migrantes a entrar no arquipélago espanhol, respetivamente.
Em maio, El Hierro recebeu apenas nove migrantes, mas a entrada incessante de canoas com refugiados naquele porto de La Restinga durante o verão, sobretudo na segunda quinzena de setembro, tornou a ilha na mais procurada por migrantes este ano, cenário que acontece pela primeira vez desde a chamada “crise dos cayucos” em 2006, quando a Rota das Canárias atingiu o seu máximo (31.678 pessoas).
A chegada de migrantes a El Hierro nos últimos cinco meses e meio equivale praticamente a 50% da sua população, que é de 11.154 habitantes.
O Ministério do Interior espanhol não publica números por cada ilha, mas a Cruz Vermelha monitoriza estes fluxos detalhadamente.
Somadas as chegadas de migrantes de terça-feira e de hoje aos dados por ilhas de segunda-feira, El Hierro já supera Lanzarote, com 5.536 imigrantes, contra 5.354. A Gran Canaria aparece em terceiro lugar (4.160), Tenerife em quarto (3.338) e Fuerteventura em quinto (1.938).
Estas chegadas maciças têm levado as autoridades espanholas a transferir centenas de migrantes da ilha de El Hierro, onde as autoridades estão sobrecarregadas, para outras ilhas.
Nos últimos anos, a rota migratória para as Canárias tem sido particularmente movimentada devido ao reforço dos controlos no Mediterrâneo e os naufrágios são frequentes.
A rota da África Ocidental, que atravessa o oceano Atlântico e a costa oeste de África até às Canárias, é conhecida por ser extremamente perigosa, por causa das fortes correntes marítimas.
As organizações não-governamentais (ONG) relatam regularmente naufrágios mortais – cujo número não oficial de vítimas, segundo adiantam, ascende a dezenas ou mesmo centenas de pessoas – em águas marroquinas, espanholas ou internacionais.
Mesmo com tais perigos, esta rota tem atraído cada vez mais migrantes, sobretudo provenientes de países da África subsaariana, que desejam chegar ao território europeu, a grande maioria a bordo de embarcações muito precárias e sobrelotadas.
Espanha, a par da Grécia, Itália, Malta ou Chipre, é um dos países da “linha da frente” ao nível das chegadas de migrantes irregulares à Europa.
Os embaixadores dos países da União Europeia (UE) chegaram, há uma semana, a acordo sobre um regulamento fundamental para a reforma migratória europeia, estabelecendo um mecanismo de solidariedade obrigatório entre os Estados-membros no caso de um deles ser confrontado com um fluxo migratório maciço.
Lusa