A visão é de Eugénio Sequeira, presidente da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), que, em entrevista à agência Lusa, a propósito dos 70 anos da LPN, alertou para os perigos das alterações climáticas que o mundo já está a viver. É só o princípio, diz.
Engenheiro agrónomo licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia, investigador, especialista em agricultura sustentável, florestas e desertificação, Eugénio Sequeira diz que não gostava de passar pelas alterações climáticas com a família, admite que os netos vão “passar as passas do Algarve” e diz: “vamos dar cabo da nossa civilização, não do planeta”.
Ainda assim, é otimista quando afirma que, no futuro, o mundo terá que ser melhor, que o homem vai ser forçado a encontrar energias não poluentes, soluções para os problemas ambientais de hoje. “Sabemos que vai ser difícil, mas temos capacidade para o fazer”.
Para já, o mundo tem de lidar com as alterações climáticas, as cheias, mas também as secas, a sobre-exploração das águas subterrâneas e a perda de habitats como as zonas húmidas, o excesso de nitratos, as culturas híper intensivas, a poluição das ribeiras e dos oceanos.
De tudo fala e tudo lamenta Eugénio Sequeira, que aponta em Portugal para um problema que é urgente resolver. “Salvar o montado é salvar todo o sul do país. Se o sul não tiver suporte para defender o montado da seca o deserto chega a Lisboa”.
A LPN tem um Centro de Educação Ambiental em Castro Verde onde mostra que é possível aliar progresso e sustentabilidade, através do ciclo sustentável da água, das energias renováveis, do combate à desertificação e defesa da fauna e flora locais.
“Fizemos ali o primeiro projeto piloto de combate à desertificação. Porque conseguimos comprar mil hectares e nos nossos terrenos, com restrições de máquinas, passámos de 100 para 2.000 abetardas”, uma ave que esteve ameaçada, diz Eugénio Sequeira, lamentando que a falta de dinheiro não permita à LPN fazer o mesmo trabalho na herdade que tem em Vila Nova de Poiares.
Para já é o projeto de Castro Verde que faz brilhar os olhos de Eugénio Sequeira, mas também é a seca no sul do país que lhe enruga a testa. Porque, diz, “o montado está a morrer” e a seca rompe o equilíbrio entre o sobreiro e as micorrizas (associações entre fungos e raízes), que não é solucionado por chuvas cada vez mais concentradas.
Eugénio Sequeira diz que a solução para o montado é a construção de declives que retenham as águas que alimentem as micorrizas. “É preciso chamar as câmaras e os grandes produtores”, avisa.
E avisa também que é preciso saber trabalhar com os agricultores, que é preciso ajudar os mais idosos a limpar os terrenos e evitar, assim, as queimadas que acabam em grandes incêndios, que é preciso enfim substituir os inseticidas por ninhos de morcegos e pássaros que comam esses insetos.
E depois é preciso também ensinar as pessoas a pensarem além de um horizonte de dois anos, pensarem a longo prazo e não nos ganhos imediatos, à custa do ambiente.
Não é fácil ver outras realidades, admite Eugénio Sequeira. E dá um exemplo, como que a pensar alto: “Porque é que lutamos pelo lince, pelo abutre, pela abetarda? São mais importantes do que outros que vivem no subsolo? Lutamos, pela necessidade de ter algo visível. Vêm turistas para ver a abetarda, não vêm ver a minhoca. Até nós deturpamos a realidade”.
Mas Eugénio Sequeira, 81 anos, tem ainda assim esperança num mundo melhor. É possível. Pois se em Castro Verde conseguiram produzir 16 toneladas de milho sem poluir e ainda salvar o lince e a águia imperial é possível.
LUSA