A arguida, uma empregada de mesa, responde pelo crime de homicídio qualificado, estando na origem deste caso o facto de a mulher ter constatado que o marido tinha uma relação extraconjugal com uma das suas melhores amigas.
De acordo com a acusação, a 27 de março de 2018, na sequência de uma discussão, a mulher “foi buscar uma faca de 15 centímetros à cozinha” e desferiu um golpe no pescoço, dois no abdómen e outras duas no tórax no marido.
A vítima, um empregado de escritório, de 66 anos, ainda esteve uma semana internado no hospital do Funchal, foi submetido a uma intervenção cirúrgica, mas acabou por não resistir aos ferimentos e “as lesões foram a causa da morte”, refere a acusação.
“Ele sempre bebeu e disse que sempre me traiu, mas nunca me maltratou” de forma física, apenas verbal, “quando estava bêbado”, disse a arguida, prestando declarações ao coletivo presidido pelo juiz Filipe Câmara.
Também referiu que o casamento durava há mais de duas décadas e que foi “desde 2015 que notou uma mudança radical no comportamento” do marido.
Ainda mencionou que “ele agrediu [fisicamente] várias vezes, só que não foram participadas” às autoridades policiais.
A arguida referiu que suspeitava de que o marido tinha uma amante – que até era sua amiga – e que a levava para a casa do casal e que, com o intuito de comprovar, chegou a deixar um gravador disfarçado numa das placas do teto falso da casa de banho.
Como o marido sempre negou, a 15 de julho de 2018 escondeu-se no porta-bagagem da viatura do marido e acabou por confrontá-los num encontro, onde “viu com os seus olhos”, complementou.
No dia do crime, na sequência de uma discussão, a arguida admitiu que foi à cozinha e “a primeira coisa que apanhou foi uma faca”, assegurando que a intenção “era só para se defender se ele a voltasse a agredir”, porque “tinha medo”.
Hoje, tentando recordar os pormenores desse dia perante o tribunal, disse que é “como se fosse um pesadelo”, que “estava fora de si” e que nem se recorda do “motivo porque se levantou para ir à cozinha”.
“Bloqueei”, realçou, complementando que apenas se recorda de se ter “sentado na cama e só ouvir ele dizer: ‘atingiste-me no coração’.
A arguida atesta que “tentou ajudá-lo, falar com ele, mas ele não dava resposta”, descreveu.
Acrescentou também ter pedido aos mestres que estavam a trabalhar nas obras da casa que chamassem uma ambulância e, como achou que estava a demorar, ela própria telefonou para o 112 informando ter dado “umas navalhadas no marido”.
Tendo em conta a descrição que a arguida faz dos factos e dos golpes com os quais feriu a vítima, o juiz opinou: “Não percebo como a senhora o atingiu”.
A vítima tinha três filhos de uma relação anterior, pedindo uma delas uma indemnização cível de 150 mil euros.
O julgamento teve início agendado para 12 de dezembro de 2018, mas foi adiado para hoje.
Depois de ouvir a arguida, que está com pulseira eletrónica, o tribunal passou para a fase de audição de testemunhas, começando com as cinco arroladas pela acusação, incluindo uma das filhas da vítima do primeiro casamento que durou 19 anos.
“Sei que o meu pai não foi uma pessoa nada fácil, era muito violento quando bebia, o que acontecia todos os dias” só relativamente à minha mãe, adiantando que “era rígido na educação”, mas não maltratava os filhos.
Ainda indicou que já nessa altura o pai tinha outros relacionamentos e agredia a mãe, e que quando a arguida falava com ela "era o recordar do passado" e que "nada tinha mudado" em relação ao pai.
C/LUSA