"É com uma profunda tristeza e um enorme vazio que vimos informar que faleceu há poucas horas o nosso querido camarada Arnaldo Matos, fundador do PCTP/MRPP e um incansável combatente marxista que dedicou toda a sua vida ao serviço da classe operária e a lutar pela revolução comunista e por uma sociedade sem classes", escreve o partido numa nota.
Arnaldo Matos fundou o Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado (MRPP), em Lisboa, na clandestinidade, em 18 de setembro de 1970, juntamente com Vidaúl Ferreira, Fernando Rosas e João Machado.
Fonte do partido adiantou que Arnaldo Matos faria 80 anos no próximo domingo, e que o PCTP/MRPP tinha preparada uma homenagem.
Na nota intitulada "Honra ao camarada Arnaldo Matos" (1939-2019), o PCTP/MRPP diz que a sua obra e o seu exemplo "perdurarão para sempre na memória dos operários e dos trabalhadores portugueses e constituirão um guia na luta do proletariado revolucionário e dos comunistas pelo derrube do capitalismo e do imperialismo e pela instauração do modo de produção comunista e de uma sociedade de iguais".
O partido acrescenta que divulgará mais tarde informações sobre as exéquias e o funeral.
Arnaldo Matias de Matos nasceu na Madeira, em Santa Cruz, em 24 de fevereiro de 1939, e é o mais velho de cinco irmãos da família Matos.
Fez o ensino na Madeira e aos 8 anos ajudava o pai no comércio e no balcão do botequim, a vender copos de vinho e aguardente.
Em 1958, aos 19 anos, escreve um manifesto dos jovens madeirenses de apoio à candidatura presidencial de Humberto Delgado, em plena ditadura.
Vai estudar para Coimbra, na Faculdade de Direito, mas, em 1961, faz a recruta em Mafra e é destacado para Macau, numa companhia liderada por Ramalho Eanes, anos mais tarde Presidente da República.
E é aí, na então colónia portuguesa, um enclave na China, que toma o primeiro contacto com os textos e a doutrina de Mao Zedong, antes de seguir para uma comissão militar em Moçambique.
Arnaldo Matos participa nos Comités Vietname, transformados em comités de luta contra a guerra colonial, e, em 1970, está na fundação do MRPP.
É maoista, ateu e um dos críticos do PCP, de Álvaro Cunhal, na defesa de que o “Estado só pode ser derrubado pela força das armas”.
Após o 25 de Abril de 1974, que derrubou o regime ditatorial, Arnaldo Mato e muitos militantes do MRPP continuam na clandestinidade e no ano seguinte é preso pelo COPCON, comando operacional do continente, liderado por Otelo Saraiva de Carvalho.
É dessa altura que fica conhecida a frase, gritada por militantes e apoiantes do seu partido: “Liberdade já para o camarada Arnaldo de Matos”, que já era conhecido como o “grande educador da classe operária”.
Em 1982 abandona o PCTP/MRPP, mas nos últimos anos tornou-se um dos mais ativos militantes, com dezenas e dezenas de escritos na página do órgão oficial do partido, www.lutapopularonline.org e criou uma conta no Twitter, em que fez criticas ferozes a primeiro-ministro, António Costa, e ao acordo de esquerda que permitiu o governo minoritário do PS.
A poetisa Natália Correia, que também foi deputada, dedicou-lhe, como fez a alguns políticos, um poema em que o define como “um romântico, um feiticeiro, com uma capacidade rara de seduzir, de hipnotizar (…) O nosso Rasputinezinho.”
LUSA