“O recrutamento de mulheres é estrategicamente importante no que diz respeito ao aumento da capacidade militar necessária para gerir os compromissos em matéria de defesa e segurança. Por isso, se precisamos de recrutar mais mulheres, precisamos que elas se sintam mais acolhidas, aceites e que pertencem”, defendeu Helena Carreiras.
A governante falava na abertura do 5.º ‘Erasmus Gender Seminar’, um seminário dedicado ao tema “Perspetivas de Género no Ensino Superior”, que se realiza hoje e terça-feira na Academia Militar, no concelho da Amadora, em Lisboa.
Numa intervenção em inglês, a ministra da Defesa alertou, no entanto, para uma excessiva concentração “nos números”.
“A fórmula básica ‘adicionar mulheres e agitar’ simplesmente não é suficiente para desafiar a desigualdade estrutural e promover mudanças reais”, salientou.
A este respeito, considerou Helena Carreiras, “é importante investigar em que medida os jovens cadetes, homens e mulheres, se adaptam (ou não) à cultura militar e ao seu ambiente predominantemente masculino, qual é o nível de aceitação pelos pares entre os cadetes e o que acontece quando as mulheres assumem cargos de liderança”.
Salientando que “guerra e género sempre estiveram interligados”, Helena Carreiras afirmou que “a cultura criou diferentes papéis de género, e a guerra, apesar de um número crescente de mulheres nas Forças Armadas, ainda é vista como uma atividade masculina, onde a maioria dos soldados ainda são homens”.
“Isto justifica a questão de saber se a educação e a formação nas instituições de Estudos Superiores Militares continuam a privilegiar a criação de um soldado masculino”, apontou a ministra, que é especialista em sociologia militar, com obra publicada sobre mulheres nas Forças Armadas.
De acordo com Helena Carreiras, “por um lado, a investigação demonstrou efeitos consistentes de masculinidade nas organizações militares, que se manifesta pelas percentagens assimétricas de pessoal masculino ‘versus’ feminino”.
“Por outro lado, o treino militar básico é frequentemente descrito como um processo em que os militares doutrinam normas de masculinidade que tanto enaltecem as características masculinas, quanto diminuem a feminilidade”, salientou.
Tendo em conta o atual “complexo cenário internacional”, com novos desafios à segurança colocados pela crescente competição geopolítica, pelos avanços na tecnologia de guerra e ameaças híbridas, e pelas ameaças representadas pelas mudanças climáticas, sustentou Helena Carreiras, “a preparação dos nossos militares deve combinar cada vez mais treino para guerra simétrica e assimétrica, bem como treino para a construção da paz”.
“Neste contexto, os soldados precisam de fazer mais do que apenas usar a força em nome do Estado. Precisam também de criar confiança, trabalhando lado a lado com sociedades e parceiros de contextos organizacionais distintos. Devem ser capazes de atacar as causas de fundo da guerra e criar condições mais favoráveis para uma paz a longo prazo”, acrescentou.
Por isso, “combinar bravura e força com empatia e paciência – duas características muitas vezes feminizadas – pode, de facto, ser um multiplicador de força para o bem”, destacou Helena Carreiras.
Numa intervenção momentos antes, o Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Eduardo Mendes Ferrão, adiantou que atualmente o ramo tem 1.293 mulheres, o que corresponde aproximadamente a 13% do total do pessoal.
“A igualdade é hoje um tema incontornável e a diversidade enriquece qualquer instituição. Por isso, é necessário desenvolver ações concretas que nos permitam olhar para o futuro e confiar que estamos a ir na direção de uma sociedade mais progressista”, defendeu o general.