Num desenho nas mãos de uma menina no meio da multidão lia-se “abra o caminho da vida”, segundo relato da agência francesa AFP.
Num outro, pedia-se “autodeterminação” para Nagorno-Karabakh, um enclave montanhoso com uma maioria arménia que se separou do Azerbaijão, mas que Baku considera ser seu.
Há quase duas semanas que ativistas do Azerbaijão têm bloqueado o corredor de Lachin, a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Arménia, dizendo que estão a protestar contra a mineração ilegal na região.
A Arménia acusa o Azerbaijão de querer causar uma crise humana, que o regime de Baku rejeita, assegurando que ainda é possível viajar nesta rota.
A multidão reunida hoje na Praça da Renascença, no centro de Stepanakert, agitou muitas bandeiras arménias e separatistas, testemunhou a AFP.
Na frente da manifestação esteve o líder dos separatistas de Nagorno-Karabakh, Arayik Harutyunyan.
Ao microfone, em frente de vários milhares de manifestantes, Mary Asatryan, do gabinete local dos direitos humanos, apelou à comunidade internacional para agir de imediato e exigir o levantamento do bloqueio.
“Durante 14 dias, nenhum alimento, medicamento, combustível ou outros produtos vitais foram autorizados a entrar” no enclave, lamentou.
Asatryan denunciou “um crime contra a humanidade” organizado por Baku com o “bloqueio deliberado de 120.000 pessoas” e lamentou a falta de resposta da comunidade internacional.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Azerbaijão, por sua vez, condenou as “atividades destrutivas” da Arménia que “não servem para restaurar a paz na região”.
“Não há provas de que as manifestações no corredor de Lachin constituam uma ameaça de crise humana e que os arménios estejam sob bloqueio”, afirmou o ministério em comunicado, citado pela AFP.
Combates ocorridos em setembro passado entre forças militares da Arménia e do Azerbaijão foram os mais graves desde 2020, quando os dois países se confrontaram pelo controlo do Nagorno-Karabakh.
O enclave tem sido foco de conflitos desde que, em 1988, decidiu autonomizar-se de Baku, e quando a Arménia e o Azerbaijão ainda estavam integrados na União Soviética.
A Arménia e o Azerbaijão declararam a independência em 1991, e o conflito, que se agudizou nos últimos meses, prosseguiu em torno do enclave do Nagorno-Karabakh, região em território azeri habitada quase exclusivamente por arménios (cristãos ortodoxos).
Este enclave declarou a independência do Azerbaijão muçulmano após uma guerra no início da década de 1990, que provocou cerca de 30.000 mortos e centenas de milhares de refugiados.