“Em alguns pontos da ilha, há uma intensificação de condições que favorecem os incêndios”, que resulta do “vento mais intenso, do aumento da temperatura e da queda da humidade” e da “componente orográfica”, afirmou hoje o investigador da UÉ Flavio Couto.
O cientista falava à agência Lusa sobre um estudo, no qual participou, juntamente com os investigadores Rui Salgado e Nuno Guiomar, que caracterizou os ambientes meteorológicos que favoreceram a evolução de grandes incêndios na ilha da Madeira.
Segundo a academia alentejana, o estudo foca três períodos, nomeadamente os meses de agosto de 2010, julho de 2012 e agosto de 2016, durante os quais se observou a propagação de oito grandes incêndios florestais.
Os investigadores recorreram a uma metodologia assente na modelação atmosférica de alta resolução, utilizando o modelo de investigação francês designado por “Meso-NH”, já utilizado no polo de Évora do Instituto de Ciências da Terra (ICT).
“Aplicámos este modelo para estes eventos para ele nos mostrar as principais condições meteorológicas em cada um dos casos para vermos o que é semelhante e para que possamos identificar as principais condições”, realçou.
Flavio Couto salientou que, nos três períodos analisados no estudo, os incêndios ocorreram em “vários pontos” do território e o modelo “apontou para o efeito de ilha”, que está relacionado com “o escoamento atmosférico”.
“As simulações ajudaram-nos a identificar algumas condições diferentes desse efeito de ilha. Por exemplo, a orografia também favorece movimentos descendentes intensos que podem chegar até as regiões mais baixas”, o que leva ao “aumento da temperatura e à diminuição da humidade relativa”, nomeadamente na encosta sul, referiu.
O investigador da UÉ notou que “muitos dos outros eventos” ocorridos noutras regiões e analisados pelos cientistas do polo de Évora do ICT não têm uma “componente orográfica tão forte”, como acontece com os da Madeira.
“Muitas vezes, é uma questão mais de meteorologia ou mais de vento intenso ou de circulação de larga escala”, mas em relação aos fogos na Madeira “é uma questão local”, devido à “combinação da meteorologia e da geometria da ilha”.
As conclusões deste estudo, sublinhou a UÉ, permitem “um maior conhecimento sobre os mecanismos meteorológicos que favorecem, intensificam e condicionam a propagação de incêndios e são um contributo para a luta contra os incêndios florestais”.