Segundo a investigação, 741 participantes receberam 100 mg de fluvoxamina duas vezes ao dia durante dez dias e 756 participantes receberam um placebo, tendo sido observados durante 28 dias após o tratamento.
Dos 741 participantes que receberam fluvoxamina, 79 (10,6%) necessitaram de uma permanência prolongada por mais de seis horas num serviço de urgência ou hospitalização, contra 119 dos 756 participantes (15,7%) que receberam o placebo.
De acordo com a publicação na Lancet, os resultados demonstraram “uma redução absoluta” do risco de internamento prolongado ou cuidados de urgência prolongados de 5% com e uma redução de risco relativo de 32%.
“O uso de fluvoxamina para tratar em ambulatório doentes de alto risco diagnosticados precocemente com Covid-19 reduziu a necessidade de observação prolongada em urgência ou hospitalização, em comparação com o grupo de controlo que recebeu um placebo”, referem os autores do estudo citados num comunicado da revista.
Para os investigadores, estes resultados representam “um passo importante” na compreensão do papel da fluvoxamina para os doentes em ambulatório com Covid-19, diagnosticado precocemente e sintomáticos, e reforçam o conceito de que é possível gerar provas rápidas e de alta qualidade durante a pandemia”.
“Desenvolvimentos recentes nas campanhas de vacinação provaram ser eficazes e importantes na redução do número de novos casos sintomáticos, hospitalizações e óbitos por Covid-19. Contudo, a Covid-19 ainda representa um risco para as pessoas que vivem em países com poucos recursos e acesso limitado à vacinação”, alerta Edward Mills, da Universidade McMaster, co-investigador principal do ensaio.
Para o investigador, é de “grande importância” identificar terapias baratas, amplamente disponíveis e eficazes contra a Covid-19, bem como “reaproveitar medicamentos existentes que estão amplamente disponíveis e têm perfis de segurança bem compreendidos é de particular interesse”.
A fluvoxamina, um inibidor seletivo da recaptação da serotonina (SSRI) usado para tratar problemas de saúde mental, como depressão e transtornos obsessivo-compulsivos, foi escolhida para o estudo devido às suas propriedades anti-inflamatórias.
Segundo Angela Reiersen, professora associada de Psiquiatria da Washington University em St. Louis e coautora do estudo, “a fluvoxamina pode reduzir a produção de moléculas inflamatórias, chamadas citocinas, que podem ser desencadeadas pela infeção pelo SARS-CoV-2”.
O ensaio ‘Together’ começou em junho de 2020, mas o estudo da fluvoxamina começou em janeiro de 2021, recrutando adultos brasileiros sintomáticos, com teste positivo à Covid-19, que não foram vacinados e tinham pelo menos um critério adicional de alto risco.
Embora a mortalidade não tenha sido um objetivo de análise primário do estudo, numa análise secundária "por protocolo" de doentes que tomaram pelo menos 80% das doses de medicação, houve uma morte no grupo da fluvoxamina, contra 12 no grupo placebo.
“Dada a segurança da fluvoxamina, a tolerabilidade, a facilidade de utilização, o baixo custo e a disponibilidade generalizada, estes resultados podem ter uma influência importante nas orientações nacionais e internacionais sobre a gestão clínica da Covid-19", defende Gilmar Reis, coinvestigador principal, sediado em Belo Horizonte, Brasil.
Os autores reconhecem algumas limitações no estudo, referindo que a fluvoxamina não está na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde, enquanto a fluoxetina está, defendendo ser crucial estabelecer se estes fármacos podem ser utilizados de forma intercambiável, bem como determinar se a combinação de fluvoxamina com outros fármacos irá proporcionar um efeito maior de tratamento nesta doença.