Na aula de jubilação do antigo ministro da Educação e ex-vice-presidente do PSD estiveram também o atual titular da pasta, João Costa, e antecessores como Nuno Crato, Manuela Ferreira Leite e Isabel Alçada.
No final da cerimónia, Marcelo Rebelo de Sousa e João Costa saíram lado a lado, sem responder às perguntas dos jornalistas sobre o que esperam das negociações entre o Ministério da Educação e os sindicatos dos professores.
“Estou esperançado”, repetiu apenas o chefe de Estado, perante a insistência da comunicação social.
Questionado pelos jornalistas, Rui Rio escusou-se a falar de atualidade política, insistindo, como tinha dito numa iniciativa local há uma semana, que impôs para si mesmo uma regra ética de um certo “período de nojo” depois de quatro anos como presidente do PSD.
“Tenho acompanhado tudo, como é evidente, mas sobre a conjuntura política rigorosamente nada. Acho até que estou a dar um bom exemplo, quem está um tempo na vida pública depois deve ter um período de nojo”, disse, salientando que só falou sobre assuntos relativos à câmara do Porto oito anos depois de ter deixado de ser presidente da autarquia.
Sobre o tema da última aula de David Justino, “A nova era da incerteza”, o ex-líder do PSD disse concordar com a exposição geral do seu antigo vice-presidente.
“Todos temos a certeza de que se vivem tempos de incerteza, decorrentes da pandemia, da guerra e por via da evolução da própria sociedade (…) Nenhuma incerteza é mau, muita incerteza também é mau, é tudo uma questão de grau”, afirmou Rio, recusando qualquer leitura política de se terem concentrado hoje ao final da tarde vários membros da sua anterior direção na reitoria da Universidade Nova de Lisboa.
“Reuniram-se aqui hoje muitas pessoas amigas e que têm respeito pelo professor David Justino, é só isso que me trouxe aqui”, assegurou.
Da área social-democrata, estiveram presentes outros ‘vices’ de Rio como Salvador Malheiro, André Coelho Lima e Isaura Morais, os anteriores líderes parlamentares Paulo Mota Pinto e Adão Silva (atual vice-presidente da AR) ou o ex-secretário-geral do partido e deputado, José Silvano, bem como o antigo dirigente do partido Pacheco Pereira, além de vários atuais deputados.
Uma delas, Lina Lopes, fez questão de assinalar que estavam “todos juntos”, ao que David Justino respondeu, em tom bem-humorado: “Vocês juntos são um perigo”.
Na sua última aula, David Justino fez questão de agradecer aos antigos professores Cavaco Silva e Ferreira Leite e aos alunos que ensinou durante mais de 46 anos, deixando algumas reflexões sobre a área que tutelou, a educação.
“Entendo a educação como uma instituição social com a função fundamental de transmitir o legado do passado às novas gerações (…) Torna-se para mim difícil entender que a educação não assente no conhecimento, na cultura, no esforço, no rigor, na exigência e na disciplina”, afirmou.
O antigo ministro citou uma frase do filósofo grego Aristóteles – “As raízes da educação são amargas, mas os seus frutos são doces” – para tirar uma conclusão aplicável ao presente.
“Receio que, ao adocicarmos as raízes, venhamos a colher frutos amargos”, alertou, dizendo não simpatizar com quem promete uma “escola do futuro” assente apenas em novas tecnologias e que transformam o professor apenas “numa espécie de animador de sala”.
“Não há nenhuma tecnologia que possa preencher a relação humana e o futuro da edução tem de passar pela valorização dessa relação humana, há que garantir o presente antes de imaginar o futuro”, disse.
Para lá da educação, o ex-dirigente social-democrata alertou para os perigos de uma crescente incerteza em todos os quadrantes sociais, incluindo a política, com riscos de uma crescente polarização.
“Em linguagem mais comum, estamos a falar de radicalização, extremismo, populismo, em que a violência verbal e física são os estados mais elevados. A moderação, a cultura do compromisso, a defesa do bem comum acabam por ser relegados para o vazio pelos extremos”, lamentou.
David Justino, professor catedrático do Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, foi ministro da Educação do XV Governo Constitucional liderado por Durão Barroso, entre 2002 e 2004, e vice-presidente do PSD entre 2018 e 2022 sob a liderança de Rui Rio.
Foi vereador na Câmara Municipal de Oeiras, deputado entre 1999 e 2002, presidente do Conselho Nacional de Educação (entre 2007 e 2013) e consultor do ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva para os Assuntos Sociais, tendo sido agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique em janeiro de 2016.
Lusa