“Falta pouco mesmo, daqui a poucos minutos isto vai começar a aquecer. Estamos preparados para, com os nossos apitos, fazermos barulho e parar todo a cidade. Só por 15 minutos”, explicava, preparado para o segundo dia de protesto, sem disfarçar: “Ansioso mesmo, para o momento começar”.
Cinco minutos depois, pelas 12:00 locais (10:00 em Lisboa), debaixo de um sol abrasador, Amanciano e centenas de outros saíram à avenida 25 de Setembro, juntando-se aos carros parados na via, ao som de apitos, vuvuzelas, buzinas e tudo o que fizesse barulho, além de cartazes de contestação aos resultados anunciados das eleições gerais de 09 de outubro e gritos de protesto.
“Demonstra a indignação do povo, por causa do roubo do nosso voto. Não querem trazer a verdade ao povo que foi votar no Venâncio Mondlane, é o repúdio pelo que está a acontecer”, explicava, já prestes a juntar-se a um protesto que resumia: “Nós queremos a nossa verdade eleitoral, mais nada”.
Esta nova fase de protestos foi convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), e centenas de pessoas responderam saindo às ruas da capital, vestidas de preto, ou parando as viaturas no meio do trânsito durante 15 minutos.
Hoje, carros parados e o buzinão alastraram a outras artérias centrais de Maputo, como as avenidas de Moçambique, Karl Max, 24 de Julho, Eduardo Mondlane, entre outras zonas.
A ação, para os dias 20, 21 e 22 de novembro, em todo o país, explicou o candidato, é o luto pelas vítimas, manifestantes – segundo o candidato um total de 50 mortos nos últimos dias – que participaram em ações de protesto anteriores, disse, “baleadas pelas autoridades que as deviam proteger”.
Noutro ponto desta avenida, uma das centrais da baixa de Maputo, como em vários outros pontos da capital, Evaristo Venâncio justificava a presença num protesto que decorreu sem incidentes: “Estou aqui porque acredito numa causa, que é a causa de todos os moçambicanos”.
“Eu não estou a fazer isto por mim, estou a fazer isto pelo polícia, pelo médico. Eu tenho trabalho, consigo-me sustentar, mas o médico, o professor, o polícia, não tem as condições condignas que eu consigo ter”, acrescentava.
Enquanto carros, camiões e viaturas de transporte público paravam na rua, juntando-se ao protesto com buzinadelas, muitos outros voltaram a sair dos estabelecimentos comerciais e instituições públicas, aglomerando-se também nos passeios, vestidos de preto, entoando cânticos de apoio a Venâncio Mondlane.
Terminados os 15 minutos que pararam Maputo pelo segundo dia consecutivo, a vendedora ambulante Rosa Mangue confessava que era pouco: “Queremos o nosso ‘Presidente’ mudar e ser uma hora, amanhã, o último dia”.
Por poucos minutos, Rosa pousou a bacia com líchias que vende na baixa, dizendo-se “farta” da maçaroca, numa alusão ao símbolo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975).
“Estamos em guerra. Em guerra porque estamos cansados (…). Queremos ver outras coisas agora”, atirava.
Já para Izé Chirindza, oficial na reserva, apanhado pelo protesto na baixa, o tempo deve ser agora de “diálogo”, conforme apelo feito pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, que diz querer reunir-se com os quatro candidatos presidenciais para tentar a pacificação do país, após um mês de contestação.
“O que eu quero é o diálogo. Porque tudo o que se vive no país, vive-se na base do diálogo”, desabafava Chirindza, pedindo que todos se sentem para “resolver” o problema: “Não queremos desavenças, queremos o bem-estar do nosso povo”.
Com o trânsito parado, alguns voltaram a subir ao tejadilho das viaturas para elevar o protesto, outros batiam tambores e panelas, com a polícia a assistir sem esboçar qualquer intervenção.
Ao fim de 15 minutos, a circulação começou progressivamente a retomar normalidade, embora com o som das buzinas e apitos a permanecer de fundo, enquanto os polícias de trânsito voltavam a trabalhar, tentando regular a circulação.
Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela CNE e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.
Lusa