Estas deserções acontecem em pleno clima de tensão na fronteira entre os dois países. Para travar a entrada da ajuda humanitária internacional em território venezuelano, especialmente os bens provenientes dos Estados Unidos, o Presidente Nicolás Maduro decidiu, no sábado, encerrar parcialmente a fronteira com a Colômbia.
A maioria dos militares e dos polícias atravessou a fronteira no departamento Norte de Santander, onde fica localizada a cidade de Cúcuta. Alguns cruzaram a fronteira em Arauca (sul) e em Guajira (nordeste), precisaram os serviços de migração colombianos.
O diretor dos serviços de migração colombianos, Christian Krüger, afirmou que estes elementos das forças armadas e de segurança da Venezuela fugiram da “ditadura” do Presidente Nicolás Maduro.
Christian Krüger salientou que estes militares atravessaram a fronteira para procurar melhores condições de vida, nomeadamente para ter acesso a alimentos, mas também por causa da “pressão exercida pelos coletivos”, denominação por que são conhecidos os grupos de civis armados afetos ao regime de Maduro.
O representante colombiano relatou que alguns destes desertores entram na Colômbia com as respetivas armas e com os respetivos uniformes, mas também envergando roupas civis e acompanhados pelas famílias.
Desde sábado passado, a agência noticiosa francesa France Presse (AFP) relatou que testemunhou a chegada a Cúcuta de pelo menos 20 desertores, nenhum deles armado ou de altas patentes militares.
Christian Krüger explicou que os serviços de migração colombianos analisaram os antecedentes de cada desertor, cujas identidades e patentes não foram divulgadas.
A estes militares, as autoridades colombianas atribuíram salvo-condutos temporários.
O opositor Juan Guaidó, reconhecido por cerca de 50 países como Presidente interino da Venezuela, prometeu uma amnistia aos militares e polícias que rompessem com o governo de Nicolás Maduro, que tem nas forças armadas e de segurança um importante pilar.
O relato das primeiras deserções surgiu no sábado passado, dia que tinha sido determinado por Guaidó para começar a levar a ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos, e armazenada há vários dias no território colombiano, para a Venezuela.
Os camiões com a ajuda humanitária (alimentos e medicamentos) acabaram por não conseguir chegar ao território venezuelano, por causa do bloqueio das fronteiras ordenado pelo regime.
A situação degenerou em confrontos e pelo menos quatro pessoas foram mortas e outras centenas ficaram feridas nas fronteiras da Colômbia e do Brasil.
A Venezuela conta atualmente com 365.000 militares e polícias, bem como 1,6 milhão de elementos de milícias civis.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o presidente da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.
Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.
A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou mais de 40 mortos e cerca de mil detenções, incluindo menores, de acordo com várias organizações não-governamentais e o parlamento venezuelano.
A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.
Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.
Os mais recentes dados das Nações Unidas estimam que o número atual de refugiados e migrantes da Venezuela em todo o mundo situa-se nos 3,4 milhões.
Só no ano passado, em média, cerca de 5.000 pessoas terão deixado diariamente a Venezuela para procurar proteção ou melhores condições de vida.
LUSA