Em comunicado hoje divulgado, a organização dos direitos humanos diz que as mortes ocorreram no centro e sudoeste do país e que as vítimas incluem comerciantes, chefes de aldeias, líderes religiosos e crianças.
“Houve um aumento dramático no número de civis, incluindo suspeitos, mortos pelo exército maliano e por grupos armados islamitas”, disse a diretora da HRW para o Sahel, Corinne Dufka, citada no comunicado.
“Este completo desrespeito pela vida humana, que inclui aparentemente crimes de guerra, deve ser investigado e os implicados devem ser adequadamente punidos”, acrescentou.
O governo de transição do Mali, defende a HRW no comunicado, deve realizar investigações criminais credíveis e imparciais sobre estas mortes, pelo menos 71 das quais estão associadas às forças governamentais e 36 a grupos extremistas islâmicos.
Ambos os lados devem pôr fim aos abusos e garantir o respeito pelas leis da guerra, que são aplicáveis ao conflito no Mali, acrescenta a organização, sediada em Nova Iorque.
A HRW pede ainda às autoridades malianas que facilitem uma investigação independente da Comissão Nacional de Direitos Humanos e da missão de manutenção de paz da ONU no Mali.
Desde que o conflito armado começou no Mali, há uma década, centenas de civis foram mortos por grupos extremistas islâmicos, rebeldes separatistas, milícias étnicas e forças de segurança do Governo.
A maioria das mortes ocorreu no centro do Mali, que desde 2015 é o epicentro da violência.
Os grupos armados islamitas também mataram centenas de membros das forças de segurança malianas, incluindo 27 soldados num ataque em Mondoro, em 04 de março.
Embora vários membros dos grupos armados tenham sido julgados por ofensas criminais, quase nenhum membro das forças governamentais ou pró-Governo foi investigado, quanto mais julgado, alerta a HRW, lembrando que este conflito já provocou 320 mil deslocados.
A denúncia de hoje da HRW baseia-se em 49 entrevistas telefónicas com pessoas com conhecimento de oito incidentes, incluindo líderes comunitários, comerciantes, pessoal médico e diplomatas estrangeiros.
Os incidentes ocorreram entre 03 de dezembro e o início de março nas regiões de Ségou, Mopti e Koulikoro.
No dia 04 de março, a HRW enviou uma carta ao Governo a sumarizar as conclusões deste relatório, ao que o Ministério da Defesa respondeu que as autoridades abriram investigações em três dos oito incidentes, que continuam em curso, e estão a recolher mais informação sobre outros três para determinar quem foram os responsáveis.
A organização lembra que as partes envolvidas no conflito no Mali estão sujeitas à lei humanitária internacional e às leis da guerra e defende que as pessoas que cometam violações graves das leis da guerra, incluindo execuções sumárias e tortura, devem ser julgadas por crimes de guerra.
Defende ainda que o Ministério da Defesa deve suspender os militares implicados os abusos e garantir que a polícia militar, responsável por promover a disciplina e proteger os direitos dos detidos, estão presentes em todas as operações militares.
“O Tribunal Penal Internacional tem uma investigação em curso sobre o Mali e continua a ser o último recurso quando as autoridades nacionais não têm capacidade ou vontade de investigar e julgar os crimes mais graves”, alerta Dufka no comunicado.
O Mali está em turbulência desde o início de rebeliões separatistas e de extremistas islâmicos em 2012.
Além das ações de grupos armados ligados à Al-Qaida e ao movimento extremista Estado Islâmico, da violência intercomunitária e atos criminosos, o exército maliano é regularmente acusado de abusos, tendo estas situações causando milhares de mortes de civis e militares.
Lusa