Segundo a DGS, os dois casos suspeitos foram detetados na Madeira.
Contactado pela agência Lusa, o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, Rui Tato Marinho, afirmou que a situação da doença em Portugal “está pacífica”.
“Está quase a fazer um mês que isto começou em Portugal e temos tido, em média, um caso dia sim, dia não, todos com evolução favorável”, disse o hepatologista, adiantando que algumas crianças estiveram internadas, algumas tiveram icterícia, mas estão todas bem.
Falando da situação a nível europeu, Rui Tato Marinho disse que há pouco mais de 300 casos, dos quais resultou uma morte na Irlanda. As restantes mortes aconteceram “em países com cuidados de saúde muito diferentes”, nomeadamente na Indonésia, no México, Palestina, Estados Unidos.
O especialista salientou o facto de Reino Unido, onde surgiram os primeiros casos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida, o ritmo de aparecimento de novos casos ter diminuído. “Parece que a doença poderá estar a abrandar”, salientou.
Voltando à situação de Portugal, apontou como “aspeto importante” alguns dos 14 casos considerados suspeitos poderem deixar de o ser porque se conhece mais características da doença, o que pode fazer com que os casos diminuam em vez de aumentar.
Sobre se já se conhecem as causas da doença, Rui Tato Marinho disse que as “hipóteses que ganham força são os vírus”, nomeadamente os adenovírus.
“O adenovírus, um vírus nosso velho conhecido, pode ter-se modificado e tornado mais agressivo”, referiu, adiantando, por outro lado, que as crianças também estiveram menos expostas aos vírus durante o confinamento imposto pela pandemia de covid-19.
“As crianças de um a quatro anos tiveram menos contacto e menos infeções com o adenovírus e agora estão a ter mais”, afirmou o hepatologista, explicando que “há uma dinâmica ecológica diferente entre o fígado destas crianças e o adenovírus”.
Outra hipótese que se coloca é que tenha alguma interação com o vírus SARS-Cov-2, que provoca a covid-19, que pode ter modificado alguma coisa no fígado das crianças.
“Há aqui uma dinâmica entre dois vírus. Não sabemos ainda bem a causa”, disse, observando ainda que a imunidade destas crianças também é diferente de um jovem, por exemplo, de 16 anos ou de um adulto de 50 anos.
“Estão numa fase em que se estão a vacinar de forma natural. Começam a ir à escola, começam a ter infeções, gastroenterites, constipações, etc.”, justificou Rui Tato Marinho.
O último balanço da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado a 17 de maio, apontava para 429 casos, acrescentando que seis crianças morreram e 26 necessitaram de um transplante de fígado.
Segundo a OMS, três em cada quatro crianças afetadas têm menos de 5 anos e 15% dos menores doentes estiveram em cuidados intensivos.
Os primeiros 10 casos de hepatite infantil aguda foram notificados à OMS pelo Reino Unido em 05 de abril envolvendo crianças com menos de 10 anos.