"O que está preconizado, neste momento, é ser dado um incentivo financeiro a individuais e empresas sediados no Porto Santo para este ano e já está previsto que em 2020 esta medida possa ser expandida para a Madeira", disse a diretora regional da Economia, Patrícia Dantas, durante a apresentação da medida a jornalistas nacionais e estrangeiros.
O modelo de ajuda ainda não está definido nem legislado, mas Patrícia Dantas adiantou que será atribuído um valor fixo aos particulares e às empresas aderentes, esclarecendo também que o incentivo faz parte do projeto "Porto Santo Sustentável – Smart Fossil Free Island".
A iniciativa é da Empresa de Eletricidade da Madeira (EEM), em parceira com o Grupo Renault. Foi iniciada em 2018 e visa tornar a ilha do Porto Santo isenta de combustíveis fósseis e com o mínimo de emissões de dióxido de carbono (CO2).
"O que nós queremos é antecipar o futuro no Porto Santo e, nesse sentido, há uma estratégia delineada visando uma melhor qualidade de vida e uma utilização mais eficiente dos recursos", disse o presidente do conselho de administração da Empresa de Eletricidade da Madeira, Rui Rebelo.
O “Smart Fossil Free Island” assenta em dois pilares – a energia sustentável e a mobilidade sustentável – e pretende criar um "ecossistema elétrico inteligente" na ilha, beneficiando da sua pequena dimensão (42,48 quilómetros quadrados) e apenas 5.483 habitantes (Censos 2011).
Em 2018, a produção de energias solar e eólica foi de 15%, mas a Empresa de Eletricidade da Madeira prevê atingir os 25% em 2020, garantindo assim o abastecimento com energia renovável a praticamente todas as casas do Porto Santo, onde, por outro lado, foram já instalados 4.300 contadores inteligentes (95% do total).
Esta nova geração de contadores permite medir o consumo de eletricidade de 15 em 15 minutos, possibilitando ao utilizador uma melhor gestão dos gastos e apresentando uma faturação baseada no consumo real em vez do consumo estimado.
O "Porto Santo Sustentável" passa também por uma grande aposta nos veículos elétricos, no armazenamento de energia, na utilização de baterias de segunda vida e na recarga inteligente.
"Tudo isto está no terreno", afirmou Rui Rebelo, vincando que o Porto Santo é, atualmente, "uma montra de tecnologia e de inovação" e caminha cada vez mais no sentido de se tornar "referência internacional" ao nível da sustentabilidade energética.
O Grupo Renault aderiu à iniciativa com o mesmo propósito, ou seja, transformar o Porto Santo na "primeira ilha inteligente" do mundo, e introduziu já dois veículos, num total de 20 afetos ao projeto, capazes de devolver a carga à rede.
"Podemos melhorar o planeta, podemos melhorar as coisas, mas os utilizadores têm de estar satisfeitos", alertou Eric Feunteun, diretor do programa de veículos elétricos da marca francesa, realçando que o objetivo para o Porto Santo é atingir os 500 automóveis em breve e assim provocar um "grande impacto" na mobilidade sustentável.
"Os taxistas estão felizes, as pessoas que usam [os automóveis] no dia a dia estão felizes. Isso é um bom caminho para crescer", sublinhou.
O parque automóvel do Porto Santo é constituído por 3.000 veículos permanentes, mas apenas 25 são elétricos. Três pertencem à Empresa de Eletricidade da Madeira, um ao aeroporto da ilha e outro a um particular, sendo que os restantes, todos da marca Renault, integram o projeto “Smart Fossil Free Island”.
Maurício Sousa é taxista, conduz um desses veículos a título experimental e afirma que é ideal para a ilha. No entanto, deixa um alerta em relação à autonomia da bateria – 200 quilómetros – afirmando ser insuficiente, sobretudo nos meses de verão, quando o número de pessoas no Porto Santo ultrapassa 20 mil e a procura por transporte aumenta exponencialmente.
"Na altura de verão, temos de andar sempre a carregar", disse, sublinhando que no resto do ano o desempenho do carro é "muito bom".
A ilha do Porto Santo foi descoberta no século XV pelos navegadores portugueses João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo. Localiza-se a 50 quilómetros da Madeira e é segunda ilha habitada do arquipélago, sendo um dos principais destinos turísticos de verão da região autónoma.
LUSA