"Os resultados da reunião de hoje (em Istambul) são suficientes para uma reunião a nível de chefes de Estado", disse David Arakhamia, negociador-chefe da delegação da Ucrânia, admitindo que Moscovo aceitará esse encontro, pela primeira vez desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Desta ronda de negociações, em Istambul, também saiu a conclusão de que a Ucrânia concordará em ser um país neutro, se houver um "acordo internacional" para garantir a sua segurança, do qual vários países, que atuariam como fiadores, seriam signatários, de acordo com Arakhamia.
"Insistimos que este é um acordo internacional que será assinado por todos aqueles países que sirvam de garantia de segurança", explicou o negociador chefe ucraniana, durante uma conferência de imprensa.
"Queremos um mecanismo internacional de garantias de segurança onde esses países atuem de forma semelhante ao artigo 5º da NATO, e ainda com mais firmeza", acrescentou Arakhamia, referindo-se ao ponto do tratado da Aliança Atlântica que estipula que um ataque contra um dos seus membros é um ataque contra todos.
Arakhamia citou, entre os países que a Ucrânia gostaria de ter como fiadores, os Estados Unidos, China, França e Reino Unido – membros do Conselho de Segurança da ONU – mas também Turquia, Alemanha, Polónia e Israel.
Com estas garantias, a Ucrânia "não colocará no seu território nenhuma base militar estrangeira" e não aderirá a "nenhuma aliança político-militar", sublinhou um outro negociador, Olexandre Tchaly.
No entanto, exercícios militares podem ser organizados na Ucrânia, com o acordo dos países que sirvam de garantia, especificou.
Kiev pede também que este acordo internacional não proíba de forma alguma a entrada da Ucrânia na União Europeia (UE) e que os países a ele associados se comprometam a contribuir para este processo.
Para que essas garantias entrem em vigor o mais depressa possível, a Crimeia e os territórios do Dombass sob o controlo de separatistas pró-Rússia seriam "temporariamente excluídos" do acordo, acrescentou Arakhamia.
Para resolver a questão específica da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, Kiev propõe um período de 15 anos de conversações russo-ucranianas.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.151 civis, incluindo 103 crianças, e feriu 1.824, entre os quais 133 crianças, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra provocou a fuga de mais de 10 milhões de pessoas, incluindo mais de 3,8 milhões de refugiados em países vizinhos e quase 6,5 milhões de deslocados internos.
A ONU estima que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
Lusa