A audição estava inicialmente prevista para o dia 7 de maio, tal como a do empresário Manuel Fino, mas acabou por ser adiada para hoje.
Segundo a auditoria da EY à gestão da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 2000 e 2015, o banco público tinha neste ano uma exposição a Joe Berardo e à Metalgest, empresa do seu universo, na ordem dos 321 milhões de euros.
Os empréstimos a Joe Berardo serviram para financiar a compra de ações do BCP, naquilo que alguns deputados já classificaram de “assalto" ao banco, em 2007, cuja garantia eram as próprias ações, que depois desvalorizaram praticamente na totalidade, gerando grandes perdas para o banco público.
O património de Joe Berardo tem sido escalpelizado na comissão, tendo sido repetido várias vezes durante as audições que o único bem registado em seu nome é "uma garagem na Madeira.
Em 2 de abril, o antigo revisor oficial de contas da CGD Manuel de Oliveira Rego disse, sem referir diretamente o nome do empresário, que “foi feito um esforço, em termos de aval pessoal dele [Joe Berardo] e da esposa, em termos de coleções de arte”.
No dia seguinte, o antigo presidente do conselho fiscal da CGD Eduardo Paz Ferreira considerou “extremamente difícil” que o banco consiga recuperar as garantias dadas pelo empresário madeirense, por se tratar de "uma enorme confusão jurídica" que envolve "a Fundação Berardo" e "as ligações com o Estado".
"Se há coisa que [Joe Berardo] sabe fazer é escolher bons advogados", acrescentou Eduardo Paz Ferreira.
O também professor universitário desejou ainda "muito boa sorte" à atual administração da Caixa numa "operação ‘kamikaze’ para conseguir ir ao ‘core’ [centro] do senhor Berardo", e sugeriu que era um "cliente totalmente especial e à margem das regras" na CGD.
No entanto, o ex-diretor de grandes empresas da CGD Cabral dos Santos disse que "a Metalgest e a Fundação José Berardo nunca tiveram qualquer tipo de privilégio de tratamento na Caixa, muito menos um tratamento à margem das regras".
O antigo presidente da CGD Carlos Santos Ferreira alinhou pela mesma ideia, dizendo que nunca viu “nada que permitisse concluir que essa pessoa […] tivesse tido tratamento fora das regras”, numa resposta ao deputado Paulo Sá (PCP).
Em 20 de abril, a CGD, BCP e Novo Banco entregaram no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa uma ação executiva para cobrar dívidas de Joe Berardo, de quase 1.000 milhões de euros, executando ainda a Fundação e duas empresas ligadas ao empresário.
Um dos objetivos da ação é aceder às obras de arte da Coleção Berardo, sobre a qual o empresário tem um acordo com o Estado pela qual as obras estão em exposição no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, até 2022, não podendo ser vendidas.
LUSA