Guido Consigli, de 60 anos, e Claudio Paradisi, de 54, foram detidos em 25 de junho de 2020, na marina do Funchal, onde chegaram num veleiro de bandeira neozelandesa oriundo de Martinica, nas Caraíbas, que transportava 326 quilos de cocaína de “elevado grau de pureza”.
De acordo com a acusação, os dois integravam uma rede internacional de tráfico de cocaína, que efetuava o transporte entre a América do Sul e a Europa, e, no momento em que foram detidos pela Polícia Judiciária, estavam conscientes de que transportavam droga na embarcação e que a sua conduta era proibida e punida por lei.
Os italianos estão acusados do crime de tráfico de estupefacientes agravado.
Guido Consigli, proprietário e capitão do veleiro Goldmund, que se encontra em prisão preventiva no Funchal, disse ao coletivo de juízes, presidido por Fernanda Sequeira, que só prestará declarações quando estiver na posse da tradução do processo para italiano, apesar de o julgamento decorrer com a presença de uma tradutora.
Já Claudio Paradisi, que se encontra em liberdade com pulseira eletrónica, afirmou não ter “nada a ver” com os factos descritos na acusação e negou fazer parte de uma rede internacional de tráfico de estupefacientes.
“A droga estava a bordo do veleiro, mas não eu sabia de nada”, disse, salientando que ao tomar conhecimento, no momento da detenção, pensou simplesmente que lhe tinham “arruinado a vida”.
O arguido, que fora contratado pelo proprietário do veleiro em 2019, desempenhava funções de mecânico e cozinheiro e não tinha conhecimentos sobre navegação, afirmando mesmo que teve medo de viajar em alto mar, mas aceitou o trabalho porque estava a atravessar um período de dificuldades financeiras.
A primeira viagem que fez a bordo do Goldmund foi em 2019, entre Málaga, Espanha, e São Salvador da Baía, Brasil, tendo depois regressado a Itália, em dezembro desse ano, para passar o Natal com a família.
Claudio Paradisi disse ter voltado por via aérea em janeiro de 2020 ao Brasil, onde o veleiro efetuava passeios para turistas, mas o trabalho foi afetado pela pandemia de covid-19 e ele ficou impossibilitado de regressar a Itália de avião.
O arguido referiu ainda desconhecer o momento em que os 326 quilos de cocaína foram introduzidos no veleiro e acomodados num compartimento na popa, onde disse nunca ter entrado porque não era necessário para as suas funções a bordo.
A apreensão dos 326 quilos de cocaína em junho de 2020 ocorreu na sequência de uma operação “de cariz internacional”, desenvolvida pela Polícia Judiciária em cooperação com a Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCTE), e foi uma das maiores efetuadas na Madeira.
A mais significativa acontecera cerca de dois anos antes, também numa embarcação, na marina da Calheta, zona oeste da ilha, que resultou na apreensão de 600 quilos de cocaína.
O julgamento de Guido Consigli e Claudio Paradisi prossegue em 27 de outubro.