“Nas doenças infecciosas existem causas genéticas, causas ambientais e virais que fazem com que algumas pessoas possam ser mais suscetíveis do que outras em relação à infeção por SARS-CoV-2”, afirmou hoje Luísa Pereira, daquele instituto da Universidade do Porto (U.Porto).
Em declarações à Lusa, a investigadora explicou que o projeto, desenvolvido no âmbito da 2.ª edição da linha de financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) RESEARCH 4 COVID-19, vai por isso avaliar marcadores genéticos de mil indivíduos que estiveram infetados e de mil indivíduos em que o teste à Covid-19 “em dado momento deu negativo”.
Para tal, os investigadores vão caracterizar um ‘array’, técnica de diagnóstico que permite “ao mesmo tempo e com uma quantidade mínima de amostra classificar o indivíduo quanto às suas variantes genéticas num milhão de locais do genoma”.
“O nosso objetivo é fazer este estudo de associação ao nível de todo o genoma humano em que comparamos o perfil genético de pessoas que estiveram infetadas com o grupo de pessoas que não estiveram infetadas. Algumas das variantes [encontradas no genoma] podem ser aquelas que nos tornam suscetíveis ou não à infeção”, referiu Luísa Pereira.
Segundo a investigadora, esta técnica permite que os estudos deixem de ser “enviesados” e permitirá “enriquecer o poder estatístico” dado o elevado número de pessoas que vão participar.
Além disso, o objetivo dos investigadores é, sempre que possível, fazer a correlação entre pessoas que coabitam, mas que não partilham informação genética.
“Os indivíduos não podem estar relacionados [geneticamente] porque assim também estávamos a enviesar o estudo. Vamos tentar fazer no mesmo agregado familiar, ou seja, pessoas casadas ou que moram juntas. Portanto, vamos tentar perceber porque é que determinada pessoa deu negativo no teste, mas esteve exposta ao vírus porque partilha habitação com uma pessoa que esteve infetada”, esclareceu.
Luísa Pereira afirmou ainda que a expectativa dos investigadores, nos próximos seis meses, é conseguir “identificar alguma variante genética que seja estatisticamente mais frequente no grupo de pessoas infetadas e o oposto”, por forma a permitir, por um lado, perceber o que contribui para a suscetibilidade e por outro, para a resistência ao novo Coronavírus.
Além do i3S, integra este projeto, financiado em 40 mil euros, a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-Norte).
Este é um dos 55 projetos apoiado pela 2.ª edição da linha RESEARCH 4 COVID-19, que visa responder às necessidades do Serviço Nacional de Saúde e que na sua 1.ª edição apoiou 66 projetos.
Portugal contabiliza pelo menos 1.564 mortos associados à Covid-19 em 41.646 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
C/Lusa