“Este seria o tempo ideal para uma análise mais aprofundada dos dados e tentar entender o que, especificamente, está a determinar uma mortalidade muito elevada” no país, disse à agência Lusa o especialista do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa.
Os últimos dados da Direção-Geral da Saúde, divulgados na sexta-feira, indicam que a mortalidade específica por covid-19 atinge os 28,6 óbitos a 14 dias por um milhão de habitantes, revelando uma “tendência ligeiramente crescente” deste indicador.
Este valor continua a ser superior ao limiar de 20 óbitos a 14 dias por um milhão de habitantes definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) e que constitui uma das referências determinadas pelo Governo para o país passar para um nível sem restrições de controlo da pandemia.
Segundo Miguel Castanho, é sabido que o maior número de vítimas mortais são pessoas idosas, mas é necessário aprofundar os dados para apurar se estão ou não vacinadas, se têm outras doenças debilitantes quando cruzadas com a covid-19 e onde se infetaram, se em ambiente familiar ou nos transportes públicos, por exemplo.
“A resposta a estas perguntas permitiria tomar medidas cirúrgicas dirigidas com precisão às situações de contágio de maior risco”, salientou o professor catedrático da Faculdade de Medicina de Lisboa.
Na ausência desta estratégia específica, “resta manter as estratégias generalistas assentes em evitar contágios nos locais onde podem ser mais frequentes”, como espaços fechados com muita gente em proximidade, transportes públicos, eventos e salas de aula e de espetáculos, adiantou.
“No contexto atual de medidas generalistas, é coerente o uso da máscara nas salas de aula”, referiu o investigador, que disse concordar com a decisão do Governo de prolongar a situação de alerta até ao dia 22 de abril, o que significa que ficam inalteradas as medidas atualmente em vigor.
“A situação epidemiológica mantém-se inalterada há cerca de um mês no que diz respeito a número de vítimas mortais. Não existem razões objetivas para aliviar medidas”, disse à Lusa o especialista do Instituto de Medicina Molecular.
Para Miguel Castanho, aliviar as medidas nessa altura “traria o ónus do descrédito”, alegando que o plano de ação contra a pandemia prevê que só se aliviam medidas quando todos os indicadores estiverem em níveis aceitáveis.
“É necessário ser coerente com o plano traçado, mesmo que isso implique prolongar medidas”, sustentou Miguel Castanho, para quem, ao nível da mortalidade, Portugal ainda está longe da meta definida internacionalmente.
De acordo com o especialista, essa meta corresponde a cerca de um máximo de 15 óbitos por dia, mas Portugal ainda regista cerca de 20 mortes diárias por covid-19.
“Em finais de abril e maio do ano passado tínhamos uma ou duas, o que nos dá a ideia do quanto estamos acima dos valores possíveis em tempo de primavera. Não podemos decretar por finda a corrida antes do cortarmos a meta. Isso seria desistir, um atirar da toalha ao chão”, alertou.
Segundo disse, a situação da pandemia de covid-19 “pouco mudou” em Portugal, sendo que a “única alteração importante na situação pandémica no último mês foi o eclipse do seu mediatismo” perante a guerra na Ucrânia.
A pandemia “continua a merecer os mesmos cuidados”, apesar de os “horrores da guerra se terem sobreposto aos horrores do vírus” nas últimas semanas, referiu.
A covid-19 é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China.
A variante Ómicron, que se dissemina e sofre mutações rapidamente, tornou-se dominante no mundo desde que foi detetada pela primeira vez, em novembro, na África do Sul.
Lusa