Investigadores do INSA, associados ao Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, descreveram uma nova perspetiva sobre os efeitos anticancerígenos do ibuprofeno, que foi publicada na revista European Medical Journal.
De acordo com a investigação, este medicamento anti-inflamatório de uso comum impede as células cancerígenas de produzirem variantes tumorigénicas de certas proteínas.
O uso prolongado de medicamentos anti-inflamatórios não-esteroides (AINE), como por exemplo o ibuprofeno ou a aspirina, já foi anteriormente associado a um efeito quimiopreventivo contra o desenvolvimento do cancro do cólon em indivíduos com risco aumentado.
Tradicionalmente, a ação do ibuprofeno foi explicada através do seu efeito inibitório sobre uma atividade enzimática do organismo, que está na origem da produção de moléculas pro-inflamatórias conhecidas como prostaglandinas.
O trabalho da equipa liderada pelo investigador do Departamento de Genética Humana do INSA, Peter Jordan, revelou que o ibuprofeno tem ainda outro modo de ação anticancerígena: “impede as células cancerígenas de produzirem variantes tumorigénicas de certas proteínas, num processo conhecido como ‘splicing’ alternativo”.
Em declarações à agência Lusa, Peter Jordan explicou que já se conhecia que a toma regular deste medicamento podia em casos de risco prevenir o aparecimento do cancro do colón, “mas achava-se sempre que tinha a ver com o efeito do ibuprofeno e as outras drogas, a aspirina também é um exemplo ao nível da formação de prostaglandinas”.
“O nosso trabalho veio mostrar que, pelo menos, o ibuprofeno tem outros mecanismos de ação que também podem estar na origem deste efeito anticancerígeno”, adiantou Peter Jordan, que liderou a equipa de investigadores.
No caso do cancro do cólon, uma das variantes tumorigénicas que a equipa de investigação identificou anteriormente caracteriza cerca de 10% dos tumores e estimula a taxa de sobrevivência das células malignas.
Segundo o investigador, “o ibuprofeno, mas não outros AINE como a aspirina, ao contrariar a produção desta variante consegue inibir o crescimento das células malignas", explicou o investigador.
Peter Jordan explicou que “existem subgrupos geneticamente distintos de cancro do colón e que o ibuprofeno atua sobretudo sobre um subgrupo que explica 10 a 15%” destes tumores.
Para o geneticista, são importantes estudos que identificam marcadores de progressão maligna no início do desenvolvimento tumoral para desenvolver um diagnóstico mais preciso e uma terapia mais eficaz que seja dirigida especificamente às alterações génicas presentes em cada tumor do doente.
"Um estudo mais sistemático dos efeitos do ibuprofeno poderá agora indicar quais os subgrupos genéticos desta doença que beneficiariam da inclusão deste AINE no regime terapêutico administrado", defendeu.
O investigador adiantou que a publicação na European Medical Journal, uma revista dirigida aos médicos, desta investigação realizada ao longo dos últimos anos poderá chamar a atenção de que valeria “a pena investir mais na utilização do ibuprofeno em certos casos de doentes”.
Segundo os dados mais recentes sobre a incidência de cancro divulgados pela Agência Internacional de Investigação do Cancro (IARC), o cancro do cólon passou a ser, em 2018, a primeira causa de novos casos de cancro em Portugal.