"Estou arrependido que isto tenha acontecido, mas eu não posso voltar atrás. Nunca me passou pela cabeça agredi-lo e muito menos matá-lo", disse José Narciso Vasconcelos.
O julgamento do autor confesso do homicídio do ex-cunhado começou hoje no Juízo Central Criminal do Funchal, perante um coletivo presidido pelo juiz Filipe Câmara.
O crime remonta a 26 de maio de 2018, na sequência de uma discussão entre a vítima, José Henriques, e o agressor, José Vasconcelos, por este ter deixado a luz da cozinha acesa.
José Narciso Vasconcelos, servente de pedreiro, tinha pedido a José Henriques, irmão da sua ex-mulher e que vivia de biscates, que o deixasse viver na sua casa, partilhando as despesas.
Em tribunal, contou que ambos costumavam beber e por vezes tinham discussões, porque José Henriques era muito rigoroso nas despesas de casa, exigindo, por exemplo, que as luzes estivessem sempre apagadas quando não eram necessárias, como forma de poupar dinheiro.
"Quem mandava era ele", referiu.
Depois de terem passado o dia 26 de maio a beber até às 23:00, acrescentou, deixou uma luz acesa numa ida à cozinha, o que levou o ex-cunhado a iniciar uma discussão e a agredi-lo.
José Narciso Vasconcelos disse que lhe respondeu dando-lhe com uma embalagem de vidro na cabeça e, depois, ao desequilibrar-se, desferiu-lhe um golpe com o pé "de cima para baixo" também na cabeça.
O arguido ainda foi à cozinha tomar mais dois copos de vinho e depois adormeceu. Ao acordar, cerca das 03:00 da madrugada seguinte, encontrou o ex-cunhado "encolhido e gelado".
Continuou a beber e decidiu então fazer desaparecer o corpo, serrando-o em quatro partes que colocou em sacos de plástico. Deitou-os para uma área de arejamento da cozinha através de uma gateira e tapou a abertura com uma placa de platex.
Contudo, o tribunal ficou intrigado com o facto de o exame de antropologia forense indicar lesões, antes e depois da morte, no pescoço da vítima.
José Narciso Vasconcelos explicou que poderia ter sido causado pelo golpe desferido na cabeça com o pé.
A vítima, de 44 anos, esteve desaparecida durante duas semanas, o que levou a uma investigação por parte de familiares e vizinhos, sobretudo quando souberam da existência de um colchão com vestígios de sangue no contentor do lixo.
Em 11 de junho de 2018, o Tribunal da Madeira decretou a prisão preventiva ao suspeito, dois dias depois de a Polícia Judiciária ter desvendado o crime.
O homem, então com 47 anos, foi indiciado por um crime de homicídio simples e um crime de profanação de cadáver.
A vítima e o suposto homicida eram, segundo informação da Polícia Judiciária, "dois indigentes" que viviam num beco da Rua Arcebispo D. Aires, na freguesia do Imaculado Coração de Maria.
Arroladas neste julgamento estão 13 testemunhas, oito de defesa e cinco de acusação.
LUSA