O homem responde pelos crimes de ofensa à integridade física e homicídio qualificados, alegadamente cometidos em 26 de setembro de 2019, na sequência de discussões.
Segundo a acusação, o arguido e a vítima, que tinham uma diferença de idade de 12 anos, viviam com a mãe numa casa no Funchal.
O Ministério Público sustenta que naquele dia o arguido, um viúvo, técnico de informática superior, "agarrou numa chaleira com água a ferver e atirou ao irmão", provocando-lhe "queimaduras de segundo grau" em várias partes do corpo, e "decidiu matá-lo" com uma faca.
Hoje, perante o coletivo presidido pelo juiz Filipe Câmara, o homem afirmou que os factos descritos na acusação “não correspondem à realidade”.
"Eu passei seis meses de terror porque o meu irmão se drogava muito", disse.
O homem referiu que o irmão o "ameaçava de morte todos os dias” e que não conseguia sair, nem trabalhar ao computador.
“Ele não permitia que o fizesse, desligava a luz, os tubos da água", contou, acrescentando que teve de passar a fazer as "necessidades fisiológicas dentro do quarto".
"As discussões começavam de manhã com a mãe para conseguir dinheiro. Ele roubava-me peças de computador e roupa para vender. Não permitia que eu saísse do quarto", contou.
Por isso, referiu, vivia "aterrorizado" com as ameaças, mas "não tinha a intenção de matar" o familiar.
Naquele dia, afirmou, pensando que o irmão tinha saído, abriu a porta do quarto para ir à casa de banho e foi surpreendido pelo próprio. Para se defender, acabou por atirar o conteúdo da chaleira e, posteriormente, pegou num dos talheres que tinha na mesa e desferiu-lhe um golpe.
Quanto aos motivos das discussões que tiveram, indicou, foram desde a localização do modem que permitia acesso à internet na casa às ameaças e agressões do irmão também contra a mãe para conseguir dinheiro para comprar droga.
O arguido disse ter recorrido à faca quando o irmão entrou no quarto "para atacar" e sublinhou que "andava desnorteado" com a situação.
"Tinha medo de morrer, fiquei ainda mais aterrorizado e acreditei que era eu ou ele. Só quem vive os momentos é que sabe", disse.
Entre outros aspetos, o arguido foi questionado sobre pormenores relacionados com os acontecimentos naquele dia, a forma como atingiu a vítima, o relacionamento conturbado que mantinha com o irmão e as ameaças que recebia através de mensagens de telemóvel.
"No fundo gostava do meu irmão, era meu irmão. Não gostava era das atitudes dele. Era amigo dele", admitiu, adiantando que "desde esse dia fatídico" que não consegue dormir.
O irmão, afirmou, começou a drogar-se "muito novo" e chegou a ser preso no aeroporto.
O arguido afirmou "não ter tido a noção de ter atingido" a vítima, assegurando que "nunca quis matar ninguém”.
O tribunal também ouviu hoje a gravação que o arguido diz ter efetuado das ameaças que lhe foram feitas pela vítima.