O arguido, preparador físico de profissão, decidiu prestar depoimento perante o coletivo de juízes, tendo negado alguns factos que constam da acusação.
Com uma cópia do documento nas mãos, começou por afirmar que mantinha com a vítima “uma relação análoga à de cônjuges”, porque viveram em casas separadas e tinham “vidas completamente diferentes”.
Também afirmou que a relação foi interrompida várias vezes, tendo uma das ruturas acontecido em 2015, altura em que decidiu pôr fim ao relacionamento porque “foi agredido dentro de casa”, tendo ido viver para Lisboa.
Adiantou que a vítima se deslocou ao continente três vezes para “reatarem” a relação e que acabou por regressar à Madeira. Em janeiro de 2017, a vítima decidiu pôr fim ao relacionamento, embora nunca lhe tenha “dado a conhecer” os motivos.
O arguido afirmou que o seu objetivo sempre foi tentar “conversar” sobre os motivos desta decisão, mas “foi cada vez mais difícil” contactá-la.
O preparador físico explicou que, naquela noite, decidiu ir a casa da vítima “para falar, apesar de ser tarde”, cerca das 04:00.
O arguido admitiu ter ficado “surpreso” quando a viu chegar ao apartamento com um amigo, a quem chegou a fazer “confidências” sobre os problemas no seu relacionamento com a ex-companheira.
Ainda admitiu que entrou no apartamento da vítima e chegaram a estar “aos beijos e abraços”, afetos que “foram correspondidos” inicialmente, tendo a ex-companheira depois recuado.
O preparador físico acrescentou que a mulher caiu e, quando se levantou, tinha “um objeto na mão” e espetou-lhe uma faca.
“A partir daí tudo se tornou cinzento”, apontou, sustentando que “perdeu o controlo” e “não se recorda de ter pegado numa faca”, porque vê as “coisas como se estivesse de fora” e pensou: “Quero parar e não consigo parar”.
“Depois dou por mim sentado no chão, a sentir dores e vejo aquele cenário dantesco à minha volta. Penso, isto não sou eu. Quero morrer”, afirmou, adiantando que quando atacou os polícias era para que o matassem.
O arguido, com 44 anos, é acusado dos crimes de homicídio qualificado, de violência doméstica da ex-companheira, que foi subdiretora da Loja do Cidadão no Funchal, e de resistência e coação sob funcionário [no caso, um agente da PSP].
O crime ocorreu na madrugada de 15 de abril de 2017, na casa da vítima, na Zona Velha da cidade do Funchal.
A vítima tinha apresentado queixa na PSP e no Ministério Público (MP) duas semanas antes porque o arguido “não se conformou” por esta ter posto fim ao relacionamento que mantiveram entre 2014 e 2017.
A decisão instrutória refere que o homem “lhe telefonava, procurava e abordava” em diferentes locais, incluindo no trabalho [Loja do Cidadão], tendo numa das vezes ameaçado: “Isto não vai ter um final feliz. Vou-te matar como o teu pai [que foi assassinado com um tiro na cabeça]”, porque “se convenceu que tinha outra pessoa”.
Na altura do crime, chamada ao local, a PSP acabou por encontrar a vítima semi-despida, morta, “com golpes de faca”, que a acusação diz “não serem inferior a 22”, em várias partes do corpo, com recurso a quatro facas diferentes.
Os elementos PSP encontraram o arguido no quarto, onde a vítima estava morta, com uma faca na mão, tendo sido necessário imobilizá-lo com recurso a um tiro na perna esquerda, porque este “atacou os agentes”, “correndo com a faca em riste e gritando: ‘Vou-te matar’”.
LUSA