“A situação em Myanmar deteriorou-se ainda mais. A violência brutal, o agravamento da pobreza e a repressão sistemática estão a esmagar as esperanças de um regresso à democracia”, afirmou António Guterres em Jacarta, perante líderes do sudeste asiático.
“O meu apelo às autoridades militares de Myanmar é claro: libertem todos os líderes detidos e presos políticos, abram a porta para o pleno restabelecimento do regime democrático”, disse.
Guterres falava na abertura da Cimeira da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e das Nações Unidas, uma das reuniões que coincide com a 43ª. Cimeira da ASEAN, que marcará o fim da presidência rotativa da Indonésia e a sua passagem para Laos.
A questão de Myanmar tem marcado parte da agenda de debate com a organização regional a reforçar a importância do cumprimento do consenso de cinco pontos, acordado em 2021, mas com divisões internas sobre como lidar com o assunto.
Tal como aconteceu na anterior cimeira, em maio, também na Indonésia, as cadeiras de Myanmar estão vazias nestas reuniões de Jacarta, com a junta militar responsável pelo golpe de Estado de 2021 a estar impedida de participar nas reuniões de alto nível.
Este mês as autoridades de Myanmar decidiram expulsar o encarregado de negócios timorense no país, em protesto contra as críticas que a liderança timorense fez à ação da junta militar.
António Guterres referiu-se ao crescente impacto do conflito no país, que vincou estar a “exacerbar as desigualdades e vulnerabilidades existentes com que se deparam as mulheres e as raparigas, incluindo a violência sexual, os casamentos forçados e o tráfico de seres humanos”.
Ao mesmo tempo, recordou, são cada vez mais os habitantes de Myanmar que fogem à violência, atravessando as fronteiras com os países vizinhos.
“A situação é insustentável. Mais de um milhão de rohingyas permanecem no Bangladesh, no maior campo de refugiados do mundo. E, lamentavelmente, ainda não estão à vista as condições para o seu regresso seguro, voluntário e digno. É necessário muito mais”, considerou.
Perante os líderes dos Estados-membros da ASEAN, mais Timor-Leste (que espera aderir à organização em 2025), Guterres saudou os esforços da organização para procurar uma solução, vincando a importância de uma “estratégia unificada em relação a Myanmar”.
“Reconheço igualmente os esforços determinados do Presidente da ASEAN, na Indonésia, no sentido de envolver todas as partes em conflito no diálogo político”, vincou.