A ANEB diz, em comunicado, que repudia de "forma veemente" a decisão tomada pelo reitor Amílcar Falcão, considerando que foi "pouco ponderada perante centenas de alunos e amplamente difundida pela comunicação social, não pelo valor intrínseco da medida, mas pelo insólito que a mesma provocou nos mais diversos quadrantes da nossa sociedade".
"De onde deveríamos esperar rigor, objetividade, conhecimento e evidência científica surge uma tomada de posição que a ANEB qualifica como populista, panfletária e carecente de fundamentação técnica", sinaliza a ANEB.
A associação refere ainda que considera a medida "parcial, limitativa da liberdade de escolha e apenas se impõe sobre todos os que na comunidade académica de Coimbra não têm alternativa a fazer as suas refeições fora das cantinas da universidade".
Há, pelo contrário, evidências científicas que sustentam um impacto reduzido quanto ao efeito de estufa resultante da produção agropecuária em modo extensivo, a qual representa cerca de 50% da produção bovina em Portugal, refere.
Tal medida, segundo a ANEB, esquece ainda o papel do agropecuário nacional na sustentabilidade ambiental e na garantia de biodiversidade, na afirmação e desenvolvimento do mundo rural, no ordenamento do território e na fixação de populações no interior do país, negligenciando o papel sócioeconómico do setor.
A direção da ANEB defende assim que este debate seja feito de forma "construtiva", sustentado em pressupostos técnicos e científicos devidamente estabelecidos e que seja executado de forma abrangente, considerando todos os impactos ambientais, sociais e económicos que as decisões responsáveis têm de assumir.
A ANEB tem representatividade no território continental e Açores, assumindo maior expressão nas regiões da Estremadura, Ribatejo e Alentejo.
Desde terça-feira, quando o reitor da Universidade de Coimbra anunciou que pretende eliminar o consumo de carne de vaca nas cantinas universitárias a partir de janeiro de 2020, foram já várias as associações de agricultores e produtores de diversas fileiras e a própria Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) a manifestar-se contra esta medida.
Sobre este assunto, o ministro da Agricultura, Luís Capoulas Santos, escreveu esta semana uma publicação na sua página pessoal do Facebook com o título "Proibir ou educar?".
"Não deixa de ser amargo constatar que até as vetustas paredes da centenária academia são permeáveis ao populismo e à demagogia. Sete séculos depois o decreto ainda derrota a educação, que é a maior garantia da liberdade individual e, dentro desta, da liberdade de escolha informada", escreveu Capoulas Santos.
Já o ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, questionado pelo assunto optou por destacar o esforço da Universidade de Coimbra para ser neutra em carbono. "Parece-me relevante que uma universidade, neste caso a de Coimbra, tudo faça com o objetivo de ser neutra em carbono em 2030. Esta é uma medida, obviamente outras terão que lhe seguir", disse o governante na quarta-feira, sublinhando, no entanto, a autonomia das universidades sobre esta matéria.
"Nós temos que evoluir para uma sociedade que seja neutra em carbono. Temos metas ambiciosas e todos os setores têm que contribuir", disse.
Segundo o reitor da universidade, Amílcar Falcão, a eliminação do consumo de carne nas cantinas universitárias será o primeiro passo para, até 2030, Coimbra se tornar "a primeira universidade portuguesa neutra em carbono".
A carne de vaca será substituída "por outros nutrientes que irão ser estudados, mas que será também uma forma de diminuir aquela que é a fonte de maior produção de CO2 [dióxido de carbono] que existe ao nível da produção de carne animal".
Por ano, cerca de 20 toneladas de carne de vaca são consumidas nas 14 cantinas universitárias da Universidade de Coimbra.
C/ LUSA