Algumas dezenas de enfermeiros portugueses juntaram-se no fim de semana numa vigília em Londres em solidariedade com os profissionais que em Portugal cumpriam vários dias de greve.
"Basta", "Juntos somos mais fortes", "Pela valorização dos enfermeiros" foram alguns dos motes escritos em folhas de papel e cartazes que levaram para o local de encontro, junto ao consulado-geral de Portugal em Londres.
Um das mobilizadoras da iniciativa, Mariana Alves, disse que o "objetivo é mostrar apoio aos colegas" dos enfermeiros portugueses que estão a trabalhar no estrangeiro.
"A maioria está cá porque não teve possibilidade de ficar a trabalhar no país em condições decentes. Poucas pessoas emigraram por escolha própria", disse à agência Lusa.
A mobilização foi organizada através da rede social Facebook e marcada para o final do dia de sexta-feira, para coincidir com a troca de turnos, permitindo a presença dos que fizeram turnos durante o dia e dos que ainda iam cumprir o turno noturno.
O local, junto ao consulado, que já se encontrava encerrado, foi escolhido por ser no centro de Londres, com facilidade de acesso a portugueses que trabalham em hospitais de várias partes da capital britânica.
Daniel Matos, de 32 anos e natural de Santo Tirso, está no país há seis anos, onde chegou através de uma agência de recrutamento apenas meses depois de completar a licenciatura.
A tia, também enfermeira, encorajou-o a procurar uma oportunidade no estrangeiro por ter sentido na pele durante muitos anos a falta de progressão na carreira.
"Hoje faria o mesmo, as perspetivas para os recém-licenciados não são boas em Portugal", explicou.
Bruna Machado, de 30 anos e natural do Porto, trabalhava no hospital militar em Coimbra, mas mudou-se para Londres porque o companheiro não tinha emprego e também porque não tinha perspetivas de evolução na profissão.
No sistema nacional de saúde britânico (NHS) encontrou "uma realidade muito diferente: mais formação, mais oportunidades".
Magda Andrade, de 25 anos e natural da Madeira, chegou há dois anos a Londres, desiludida com as condições de alguns colegas, forçados a trabalhar 40 horas semanais por uma remuneração de três euros por hora.
No Reino Unido, adiantou Joana Crespo, de 29 anos e há 6 anos e meio no Reino Unido, os enfermeiros conseguem ter oito semanas de férias, incluindo feriados, e os turnos adicionais são pagos em folgas ou dinheiro.
"Tenho uma colega em Portugal que não teve uma única folga em julho. Isso não é vida", desabafa.
Hugo Fernandes, de 29 anos e também há 6 anos e meio no Reino Unido, a greve dos enfermeiros em Portugal "já devia ter acontecido há mais tempo, as condições [de trabalho] são péssimas".
Como exemplo, aponta a falta de valorização e devido reconhecimento em termos salariais dos enfermeiros em comparação com outros profissionais da saúde, como fisioterapeutas, radiologistas ou nutricionistas.
Mariana Alves saudou o facto de classe, que é frequentemente dispersa devido aos horários, se ter mobilizado, até em Londres, confiando: "Esta greve pode ter influência no nosso futuro. A possibilidade de voltar a trabalhar em Portugal na minha área é uma possibilidade que gostaria de manter em aberto".
O Sindicato dos Enfermeiros e o Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem convocaram uma greve nacional de cinco dias na passada semana.
Os profissionais reivindicam nomeadamente a introdução da categoria de especialista na carreira de enfermagem, com respetivo aumento salarial, bem como a aplicação do regime das 35 horas de trabalho para todos os enfermeiros.
LUSA