Em declarações hoje à agência Lusa, o presidente da Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais (APPPFN), Victor Araújo, referiu que o setor está a passar por dificuldades, tendo vistos as vendas caírem em mais de 90%.
“Toda a flor que andamos a apanhar deitamos fora porque não há venda. Não há procura do nosso produto devido às restrições que foram impostas. Está a ser dramático. Calculamos que estão a ser deitado no lixo mais de dois milhões de euros por dia de flores”, disse.
De acordo com o dirigente da APPPFN, as importações e exportações foram canceladas, uma vez que deixaram de se fazer celebrações, casamentos, batizados e poder entrar em cemitérios.
“Neste momento, está tudo parado”, salientou.
Segundo Victor Araújo, a associação tem cerca de 400 associados e representa cerca de 80% dos produtores de flores e plantas ornamentais em Portugal.
Há 25 anos no setor, o também produtor afirmou ainda que não se lembra de uma crise como a que os produtores estão a viver agora, acrescentando que é um ramo que emprega diretamente mais de cinco mil pessoas em permanência, sendo um dos setores agrícolas que mais mão de obra emprega.
À Lusa, o gestor da empresa Florineve (sediada no Montijo, no distrito de Setúbal) contou que teve de colocar os trabalhadores em regime de ‘lay-off’.
“Até agora não tivemos ajudas. É um setor agrícola, mas é um setor específico e, neste momento, ainda não chegou nenhuma ajuda. Estamos à espera. Tivemos de recorrer ao ‘lay-off’. Temos 50% das pessoas em casa. Como temos parte da cadeia de produção quebrada, não precisamos de tanta gente”, sublinhou.
Por seu turno, o responsável pela empresa de produção de flores Porflor, Rúben Araújo, referiu que o investimento que foi feito nos meses de inverno foi perdido.
“Não consigo quantificar o prejuízo. A Páscoa é aquela festa que nos dá o ânimo de todo o investimento que fizemos durante o inverno, e agora perdemo-lo”, realçou.
Para o técnico de Barcelos (Braga), o mercado caiu de forma radical há cerca de um mês, verificando “uma quebra de 90 a 95% nas vendas”.
Rúben Araújo, que produz rosas, adiantou também que não pode enviar os trabalhadores para casa, porque as flores precisam de ser tratadas.
“Nós não mandámos ninguém embora. Continuamos cá com as pessoas todas, porque eu não posso deixar estas plantas sem ser tratadas. Se não colher o produto, se não as podar e se não as regar vou perder as plantas. Se eu perco as plantas, aí é que estávamos tramados”, indicou.
Todavia, o gestor do mercado Mercoflores (na Maia, no distrito do Porto), Constantino Silva, explicou que o setor foi interrompido e que os produtores deixaram de fornecer flores a floristas e a revendedores.
“O Mercoflores apanha por tabela, porque os grossistas vinham e – como as floristas não vinham comprar – deixaram de vir. Deitam as flores fora os que são produtores e os que são importadores deixaram de importar”, observou.
De acordo com o produtor, no mercado vendem mais de uma centena de produtores e grossistas, mas desde março deixaram de vender.
“As pessoas deixaram de vir ao mercado. Apesar estar aberto, está às moscas, porque as floristas não vêm comprar”, frisou, reforçando que “o setor das flores foi o setor da agricultura que mais sofreu” porque “parou completamente a cadeia de distribuição”.
A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou mais de 137 mil mortos e infetou mais de dois milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 450 mil doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 629 pessoas das 18.841 registadas como infetadas.