“O nosso objetivo é esse: rapidamente isolar os contactos, independentemente de se fazer logo um teste. É de imediato proceder ao isolamento, com ou sem teste”, observou Graça Freitas, na conferência de imprensa regular sobre a pandemia em Portugal, respondendo a uma questão sobre um estudo da Lancet, divulgado na quinta-feira, que alerta para a necessidade se efetuarem testes nas primeiras 24 horas para prevenir a propagação de vírus.
A diretora-geral alertou que as pessoas colocadas em isolamento profilático devido ao contacto com infetados, se testarem negativo, “não podem interpretar livremente o teste e sair de casa sem autorização” das autoridades de saúde.
“Se testam negativo, não podem vir para a rua. Têm de se manter em isolamento durante 14 dias”, avisou.
Existem atualmente 206 surtos de covid-19 ativos no país e a ministra da Saúde, Marta Temido, observou que “um surto só é considerado fechado” após passarem “dois períodos de incubação, ou seja, 28 dias, da infeção do último caso registado”.
Um estudo científico publicado na revista Lancet indica que, por mais eficaz que seja o rastreio de contactos de pessoas doentes com covid-19, de pouco servirá para travar a disseminação da doença se os testes de diagnóstico não forem rápidos.
“Se o teste de diagnóstico à covid-19 demorar três ou mais dias depois de uma pessoa desenvolver sintomas, mesmo a estratégia mais eficaz de rastreio de contactos não conseguirá reduzir a transmissão do vírus”, afirmam os investigadores responsáveis pela investigação divulgada na quinta-feira.
Se se conseguir testagem com resultados no prazo de 24 horas com rastreio de pelo menos 80% dos contactos, o número médio de contactos infetados por uma pessoa (conhecido como RT) pode ser reduzido de 1,2 para 0,8, evitando 80% das transmissões do novo coronavírus, acrescenta.
“Este estudo reforça as conclusões de outros, mostrando que o rastreio de contactos pode ser uma intervenção eficaz para evitar o contágio do vírus SARS-CoV-2, mas só com uma proporção alta de contactos e um processo rápido de testagem”, afirmou uma das principais autoras do estudo, Miriam Kretzschmar, da universidade holandesa de Utrecht.
Uma das principais conclusões é a de que “as aplicações para telemóvel podem permitir encontrar mais depressa pessoas que estejam potencialmente infetadas, mas se os testes demorarem três dias ou mais, mesmo esta tecnologia não conseguirá travar a transmissão do vírus”, referiu.
No rastreio de contactos, é preciso encontrar todas as pessoas que estiveram em contacto com uma pessoa infetada para poderem ser isoladas e assim impedir mais contágio.
Para o rastreio ser eficaz, é preciso que a taxa de transmissão do vírus traduzida no R0 seja inferior a 01, ou seja, que o número de novas infeções provocadas por cada pessoa seja inferior a uma.
No estudo, o modelo matemático utilizado presume que cerca de 40 por cento da transmissão de vírus acontece antes de uma pessoa infetada mostrar sintomas de covid-19.
Portanto, o rastreio de contactos só funciona e só consegue manter o R abaixo de 01 se as pessoas com covid-19 receberem o diagnóstico positivo no dia em que são testados, logo que desenvolvem sintomas.
Sem nenhuma medida de mitigação de contágio, cada pessoa infetará uma média de 2,5 pessoas. No entanto, só com o distanciamento físico, que reduz em 40% contactos próximos e 70% os contactos casuais, o número de pessoas infetadas por cada doente passa a 1,2.
Portugal regista hoje mais três mortes e 312 novos casos de infeção por covid-19, em relação a quinta-feira, 236 dos quais na região de Lisboa e Vale do Tejo, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS).
De acordo com o boletim, desde o início da pandemia até hoje registam-se 48.077 casos de infeção confirmados e 1.682 mortes.
C/Lusa