De acordo com os investigadores Vasco Ricoca Peixoto e Alexandre Abrantes, do Centro de Investigação em Saúde Pública, a adoção pelas autoridades britânicas do número de casos por cem mil habitantes nos últimos 14 dias como o principal critério de risco epidemiológico “não reflete corretamente a gravidade da epidemia no país” e penaliza a “política de testagem abrangente” adotada em Portugal.
Como alternativa, o barómetro covid-19 da ENSP recomenda a inclusão de outros indicadores, nomeadamente, “subdeteção de caso, política de testagem, políticas de testes diagnósticos, gravidade dos casos, medida pelas taxas de mortalidade, morbilidade, internamento geral e em unidades de tratamento intensivo, e distribuição geográfica dos casos”.
Particularizando a análise destes parâmetros e com recurso a estudos de instituições britânicas, como o Imperial College London e a London School of Hygiene and Tropical Medicine, os especialistas relembram que Portugal “deteta cerca de 80% dos casos reais de covid-19”, acima de outros países europeus, e que o país “tem um dos níveis de testagem por habitante mais elevado a nível europeu”, superior a Itália, Espanha ou Alemanha.
Paralelamente, o estudo da ENSP assinala que o país tem também “uma das taxas de positividade mais baixas” a nível internacional, bem como taxas de mortalidade acumulada e de letalidade por covid-19 aquém das registadas em países fortemente atingidos pela pandemia, como o próprio Reino Unido, mas também Espanha, França e Itália.
“Portugal tem também uma das taxas de ocupação hospitalar e em cuidados intensivos mais baixa da Europa. Estes critérios de risco epidemiológico deveriam ser tão ou mais importantes do que a incidência por 100.000 habitantes nos últimos 14 dias nas tomadas de decisão respeitantes aos movimentos transfronteiriços”, notam ainda os investigadores Vasco Ricoca Peixoto e Alexandre Abrantes.
Por fim, a investigação dos especialistas da ENSP entende também que o sistema nacional de saúde português tem tido um “bom desempenho”, atestado em diversos relatórios, e lamenta que as análises internacionais não tomem em consideração “a distribuição regional dos casos”, ao vincar que os novos casos se localizam maioritariamente na região de Lisboa e Vale do Tejo e que regiões como Algarve, Madeira e Porto apresentam baixa incidência de casos.
“A situação epidemiológica da covid-19 em Portugal e a posição do país em cada uma dessas outras áreas não justifica a exclusão dos corredores turísticos do Reino Unido. A decisão do Reino Unido de desaconselhar fortemente o turismo em Portugal inteiro, ao exigir 14 dias de isolamento aos viajantes oriundos de Portugal, com base numa incidência elevada numa região tão bem delimitada e fora dos circuitos turísticos, é questionável”, conclui o barómetro.
Em Portugal, morreram 1.629 pessoas das 44.416 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 544 mil mortos e infetou mais de 11,85 milhões de pessoas em 196 países e territórios, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
C/Lusa