Para o especialista, os picos ocorridos na região de Lisboa, que já antes tinham afetado a região do Porto, provavelmente voltarão quando o efeito verão der lugar ao efeito inverno, diz, antevendo ainda que no regresso ao trabalho, em massa, os territórios atingidos antes do período das férias voltem a registar aumentos.
Corroborando esta análise, a demógrafa Maria Filomena Mendes, afirma, à publicação, que a estes picos mais visíveis vão juntar.se “uns salpicos”, por serem territórios pequenos, mas onde os impactos são grandes.
“São casos pontuais, mas merecem uma atenção redobrada”, alerta a professora da Universidade de Évora, que defende uma análise dos números de casos por 10 mil habitantes, a acrescentar à análise frequente dos casos diários, quinzenais ou números acumulados.
“Tal regra coloca Reguengos de Monsaraz no topo da lista com 157 casos por 10 mil habitantes, há já algum tempo”, reforça o ‘Público’.
Contudo, até no contexto da pandemia podem existir “exceções à regra”. Nos concelhos, como Sintra, que sobrepõem os dois efeitos, verão e inverno, o que explica o aumento de casos nas últimas três semanas quase tão significativo quanto o aumento no concelho de Lisboa, há uma “conciliação de muitos factores”, lembra João Ferrão.
Nas duas últimas semanas, Sintra somou mais 234 casos confirmados, enquanto Lisboa teve 253 novas infecções no mesmo período. Na quinzena anterior, Sintra registava um acréscimo de 208 e Lisboa de 260, e isso significa que a taxa de crescimento de novos casos aproxima-se dessa taxa no concelho de Lisboa (com quase 548 mil habitantes).
Ainda que não exista uma informação desagregada pelas 11 freguesias, o responsável salienta que é possível concluir que este concelho com quase 378 mil habitantes, “deve ser vítima do efeito conjugado de diversas coisas”.
“Os bairros sobrelotados sem espaços públicos ao ar livre, a localização de muitas grandes superfícies para onde as pessoas vão nos tempos de lazer, a característica de ser também uma plataforma logística de fornecedores de diferentes mercados (como Aveiras ou Azambuja), o facto de ser destino para turistas nacionais e estrangeiros, e por último a condição de concelho muito diferenciado socialmente, onde também residem ou passam férias pessoas das classes média e alta que podem, nas suas actividades, ter viajado recentemente”, detalha.
Para o especialista, passados quase seis meses desde o primeiro caso detetado em Portugal (2 de março), é possível definir diferentes perfis: na maior parte do território, o padrão do inverno difere em muito daquele encontrado nos meses de verão.
Considerando que existe “o padrão geográfico do país a trabalhar e o padrão geográfico do país em férias”, o investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa aponta que, em férias, as pessoas usam menos os transportes públicos, convivem mais com familiares ou amigos, em zonas de praia ou campo onde ficam apenas temporariamente.