Os dados do Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (CEFAR) da ANF indicam que, em 2023, foram vendidos nas farmácias e parafarmácias 133.638 produtos de venda livre (gomas, pastilha, comprimido para chupar, sistemas transdérmicos e sprays), uma quebra de 5,60% relativamente ao ano anterior e menos 3,69% face a 2019.
Relativamente aos medicamentos antitabágicos sujeitos a receita médica, os dados revelam que foram vendidas 31.225 embalagens no ano passado, mais 33,26% do que em 2022, mas menos 51,35% comparativamente a 2019, quando foram dispensadas nas farmácias 64.183 embalagens.
No total, foram vendidos em 2023, 164.919 embalagens de medicamentos e produtos para a cessação tabágica, menos 38.085 relativamente a 2019 (-18,76%), adiantam os dados divulgados à Lusa a propósito do Dia Mundial sem Tabaco, que se assinala na sexta-feira.
A ANF sublinha que a categoria dos medicamentos sujeitos a receita médica (bupropiom e vareniclina) foi a que registou “a maior quebra”, lembrando que era nesta categoria que se incluía o Champix, medicamento comparticipado em 37% pelo Estado, mas que foi retirado do mercado em 2021 por decisão do laboratório.
Até há pouco tempo, o Champix era o único medicamento comparticipado pelo SNS para deixar de fumar. No entanto, “foi recentemente comparticipado um medicamento genérico de Vareniclina”, disse à Lusa o Infarmed.
No ano em que o Champix ainda estava no mercado, em 2021, os encargos do SNS com medicamentos com indicação para a cessação tabágica prescritos e dispensados nas farmácias comunitárias aproximaram-se dos 500 mil euros. No ano seguinte, passaram a ser residuais: 2.410 euros, dos quais metade eram medicamentos cuja substância ativa era a Vareniclina.
O Infarmed explica que estes valores “podem advir de consumos residuais de Champix e de regimes excecionais de comparticipação”.
Já no ano passado, o SNS gastou menos de seis mil euros e nos primeiros três meses deste ano não chegou aos dois mil euros.
Comentando os dados à agência Lusa, a coordenadora da Comissão de Tabagismo da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, Sofia Ravara, adiantou que demonstram a necessidade dos fármacos terem um preço mais acessível e serem comparticipados.
“O preço muito alto constitui uma barreira para as pessoas usarem os medicamentos e deixarem de fumar”, afirmou a pneumologista, defendendo ser necessário dar incentivos financeiros aos fumadores para os encorajar a largarem o vício do tabaco.
Segundo Sofia Ravara, esse incentivo “é baixar o preço da compra da medicação e comparticipar os medicamentos”.
Adiantou que este apoio é fundamental para aumentar a adesão à terapêutica farmacológica, sobretudo das populações mais vulneráveis que precisam de deixar de fumar e dos doentes crónicos que têm múltiplas patologias e já gastam muito dinheiro em medicação.
Defendeu, por outro lado, o aumento dos locais de consulta de cessação tabágica e que “os números de fumadores atendidos no SNS, mas também no sistema de saúde privado ou social, aumentem”.
Citando dados do último inquérito populacional, como uma amostra representativa da população portuguesa dos 15 aos 74 anos, a pneumologista disse que o consumo de tabaco “é muito alto” ao longo da vida adulta.
“É muito alto (…) nos adultos jovens dos 25 aos 34 anos e aumenta sobretudo a partir dos 34 anos até aos 65 anos”, idade a partir do qual o consumo de tabaco começa a diminuir, mas os benefícios de deixar de fumar são menores.
Ressalvou, contudo, que “não há idade para deixar de fumar”, porque “há sempre benefícios, melhora a qualidade de vida e a saúde”.
“A esmagadora maioria dos fumadores tem uma dependência baixa a moderada, o que significa que a maioria deles com um pacote robusto de políticas de controlo de tabagismo conseguiria deixar de fumar até mesmo sem aceder a um programa de tratamento”, defendeu Sofia Ravara.
Lusa