"O que me vai na alma neste momento é uma grande satisfação por aquilo que consegui fazer", disse à agência Lusa, salientando que durante o tempo de serviço na região autónoma transportou mais de cinco milhões de pessoas, num total de 6.800 viagens entre as ilhas.
João Bela comandou cinco navios – o "Independência", o "Pátria", o "Lady of Mann" e os dois "Lobo Marinho" – tendo percorrido uma distância equivalente a 27 voltas ao planeta pela linha do equador.
"Provavelmente conseguia fazer um pouco mais, mas é sempre difícil conseguirmos tudo aquilo que queremos. Julgo que o meu dever está cumprido", disse, realçando, por outro lado, que sente já "alguma nostalgia": "Não se pode esquecer 24 anos de vida numa ilha como esta e com um navio desta categoria sob o meu comando".
O comandante salientou que o grande desafio da linha Madeira-Porto Santo – cerca de 36 milhas entre portos – prende-se com a necessidade de garantir condições de segurança e conforto aos passageiros e de executar as manobras "sem problemas".
"Passei um momento muito difícil quando perdi um passageiro [um jovem que se atirou ao mar em 2005] e passei vários momentos difíceis com mau tempo, mas isso faz parte da nossa vida, temos de estar preparados para isso", disse.
João Bela explicou que o navio opera em áreas muito restritas, como é o caso do porto do Porto Santo, pelo que se torna muito difícil fazer manobras com vento e mau tempo, pois o "Lobo Marinho", com capacidade para 1200 passageiros e 145 carros, tem 112 metros de comprimento.
O comandante conta, ainda, que as dificuldades se acentuam quando vento sopra do quadrante sul, para onde está a abertura do porto.
"Aí temos de ter muito cuidado porque a área de rotação do navio é muito curta e há também muito pouca água, especialmente na baixa-mar", disse, vincando que à parte isto o porto "é bom".
Oriundo de famílias ligadas à marinha mercante e à pesca, João Bela soma 42 anos de profissão no mar e agora, prestes a completar 70 anos de vida, decidiu reformar-se.
"À partida é para não trabalhar mais", vincou, dizendo, no entanto, que sempre se sentiu "acarinhado" e "valorizado" pelo desempenho na Madeira, pelo que se a empresa Porto Santo Line, responsável pela linha, necessitar de si numa emergência estará disponível.
"Eu não posso fechar as portas a uma empresa que me deu de comer durante tantos anos. Não posso ser ingrato. Numa situação de emergência, o João Bela está sempre pronto para vir fazer o que for preciso", garantiu.
LUSA