“O Padre Alexandre deixa muito em alto a sua origem lusitana, o seu amor também por esta terra [Venezuela], onde passou a maior parte da sua vida, e aquela raiz cristã que recebeu na sua ilha natal (Madeira), em casa, que o levou ao sacerdócio, com uma simplicidade, alegria e um desejo incrível de servir os outros, e com um profundo desapego”, disse.
Baltazar Porras falava à Agência Lusa à margem das exéquias do cónego Alexandre Mendonça, de 67 anos, um devoto de Nossa Senhora de Fátima, que durante mais de 33 anos de sacerdócio se destacou como mentor da comunidade luso-venezuelana, e que faleceu na quarta-feira, devido a complicações associadas à covid-19.
“Foi uma semente de boa semente que, à sombra de Nossa Senhora de Fátima, permanece na nossa Igreja. Eu recebi-o no seminário como seu primeiro reitor e fui muito exigente com ele, como ele próprio contava com grande alegria e jocosidade”, explicou o religioso.
Baltazar Porras sublinhou ainda que foram esses dons que o levaram a ser “um padre de total integridade”, um exemplo “da esperança e confiança no amor de Deus, que não se perde apesar da pandemia que sofremos e que o tirou do meio de nós”.
A sua morte “é uma perda para a Arquidiocese de Caracas e para toda a comunidade portuguesa, que serviu com tanto afeto, e para os seus irmãos sacerdotes, com quem nunca teve quaisquer desencontros”, disse, sublinhando que Alexandre Mendonça “sempre viu o lado positivo de tudo e isso fê-lo merecedor de grande afeto e amizade”.
O cardeal explicou que o cónego lusitano estava muito doente há vários dias, “e até os médicos disseram que era apenas uma questão de horas” para falecer, mas que “esperou para partir num dia tão querido e desejado”, um 13 de outubro, data de aniversário da última ‘aparição’ de Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima.
Baltazar Porras revelou ainda que antes de falecer o cónego madeirense tinha pedido autorização para viajar “a Portugal, à sua terra natal”, no próximo dia 10 de dezembro, para passar o Natal.
Baltazar Porras afirmou ainda que “a fé (em Fátima) que irradia da imensa comunidade portuguesa na Venezuela tem dado frutos nas famílias (venezuelanas), nas vocações, trabalho, serviço e honestidade”.
“E o que melhor poderíamos pedir a quem vem de fora [imigrantes], que os melhores valores humanos e puramente cristãos que nos têm transmitido”, disse.
Por outro lado, anunciou que está em conversações com outros sacerdotes e com o Centro Português de Caracas para publicar um pequeno livro com testemunhos do exemplo do cónego Alexandre Mendonça, que “façam ver que os bons e simples padres da vida quotidiana devem estar perto do povo para que possam transmitir esperança, misericórdia, perdão e a vocação samaritana”.
Baltazar Porras está agradecido a Deus por haver “uns quantos sacerdotes de origem portuguesa em Caracas” e explicou que Carlos Abreu será o novo capelão do Centro Português e da comunidade lusa da capital venezuelana.
Alexandre João Mendonça de Canha nasceu no Funchal, na Madeira, e emigrou para a Venezuela aos 12 anos, onde se fez sacerdote, concretizando “a coisa mais linda e importante” da sua vida.
O cónego esteve internado em setembro por motivos relacionados com a covid-19 e teve uma recaída que o levou novamente a uma clínica de Caracas.
A sua morte foi confirmada à agência Lusa por fontes próximas na noite de quarta-feira.