O cão do barrocal algarvio é um “cão primitivo” que adota o nome desta sub-região do Algarve, tem “porte médio” até 25 quilogramas, está ligado ao trabalho e à caça e chegou a estar “bastante ameaçado” nas décadas de 1980 e 1990, até um “grupo de pessoas e caçadores, liderados por José Afonso, começar a trabalhar na recolha de animais para reconstituir o sangue da raça”, contou o presidente da ACCBA, Luís Coelho, à agência Lusa.
“É uma raça de cães que sempre existiu no Algarve, que foi mais ou menos abandonada pelos caçadores e as pessoas aí a partir dos anos de 1970, quando começaram a aparecer raças estrangeiras e os caçadores deixaram de usar os seus próprios cães, que se utilizavam no barrocal e na serra [do Algarve], para passarem a usar cães dessas raças estrangeiras”, explicou.
Quando a recolha de animais e criação para garantir a diversidade genética começou a ser feito, em áreas do barrocal e da serra de Tavira, Loulé, São Brás de Alportel ou Silves, a partir da década de 1990, começaram também a ser desenvolvidos contactos com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e com o Clube Português e Canicultura (CPC) e, em 2006, “houve a necessidade de criar uma associação” para “fazer a recuperação do cão” do barrocal algarvio, recordou.
O trabalho realizado pela associação permitiu “demonstrar que esta era uma raça propriamente dita” e, “em 2012, o Clube Português de Canicultura começou a fazer medições e todo o processo, dando origem à raça certificada em 2016”, destacou Luís Coelho, frisando que o cão do barrocal algarvio passou a ser a 11.ª raça autóctone de Portugal, contando atualmente com cerca de 1.000 animais e uma vintena de criadores.
“Neste momento a raça está em divulgação e expansão, depois de ter estado claramente ameaçada nos anos de 1990”, diagnosticou Luís Coelho, considerando que é agora preciso fazer “um trabalho para que esta raça passe a ser mais conhecida, valorizada”.
É também necessário evitar a consanguinidade e o cruzamento entre animais aparentados, “alargar a base genética” e “ter várias linhas de sangue e várias famílias”, para “evitar que se percam características como a cor, que “pode ser amarela, castanha, tricolor, malhada ou até mesmo preto, embora haja muito poucos” destes, assinalou.
“O nosso objetivo final é obter uma certificação que ainda não temos e temos de trabalhar bastante para ela, que é a certificação internacional. O cão do barrocal algarvio é a 11.ª raça autóctone certificada em termos nacionais, mas ainda não é reconhecida pela Federação Canina Internacional”, traçou como meta o presidente da ACCBA.
Luís Coelho espera agora que a divulgação da raça permita que mais pessoas conheçam e queiram ter cães do barrocal algarvio, que são “super-resistentes” e, “dada a sua natureza de cão de trabalho e caça, são rápidos, ágeis e de fácil maneio”, estando sempre “disponíveis para qualquer atividade física”.
“Não é um animal de companhia na sua base, mas é um cão dócil e há pessoas que o têm em casa”, disse ainda o dirigente da ACCBA, sugerindo aos interessados em ter um animal desta raça e garantir a sua preservação que entrem em contacto com a associação.