O espaço diariamente percorrido por milhares de passageiros, num vaivém constante com ligação ao mundo, faz-se agora de silêncio. Desde a meia-noite que não aterram ou descolam aviões no aeroporto Francisco Sá Caneiro, na Maia, distrito do Porto. As obras de reforço e requalificação da pista, em curso desde 31 de julho, obrigaram a um dia de paralisação total da operação aérea – que se prolonga até às 06:00 de quarta-feira – a única prevista ao longo dos 19 meses da empreitada.
À chegada, a imagem faz regressar aos tempos em que a pandemia de covid-19 obrigou a impor inúmeros constrangimentos. Com a exceção de alguns passageiros que aguardavam transbordo de autocarro para o aeroporto de Vigo e alguns balcões e espaços comerciais abertos, no edifício principal do aeroporto, que no ano passado recebeu 15 milhões de passageiros, o movimento era residual.
No painel de informações surge apenas o voo com destino a Lisboa que partiu na segunda-feira, às 23:07, o último antes da paragem total da operação.
Já na pista, a história é outra, e o diretor do aeroporto Sá Carneiro, Rui Alves, diz que a escolha do dia 10 de setembro para a realização desta intervenção foi feliz.
Recorrendo às estatísticas dos últimos 12 anos para perceber qual seria a semana com menor probabilidade de chuva, disse, “tivemos sorte”.
A preparação para esta paralisação, explicou, começou em janeiro, mês em que começaram a trabalhar junto dos operadores para minimizar os impactos.
Hoje, quaisquer constrangimentos sentidos por parte dos passageiros são responsabilidade dos operadores, afirmou.
“O trabalho está a correr dentro do previsto”, garantiu Rui Alves, acrescentando que “está tudo planeado para se cumprir o objetivo” de concluir todos os trabalhos até fevereiro de 2026, sendo que o encerramento da pista durante o período noturno (das 00:00 às 06:00) só deverá manter-se até final de 2025.
Enquanto falava aos jornalistas, na pista decorreriam os trabalhos que mobilizaram hoje 260 pessoas, cerca de 70 camiões e um total de 150 equipamentos. A “última grande intervenção” na pista 17-35 remonta aos anos de 2003 e 2004, por altura do Euro 2004.
“É uma obra bastante complexa que vai reabilitar todo o pavimento da pista, também as camadas estruturais vão ser reforçadas, que é o que está a acontecer hoje com mais profundidade. Vai ser substituído o sistema de cablagem – 340 quilómetros de cabo – colocadas mais de 1.300 luzes já com tecnologia Led, por questões ambientais, os sistemas de aproximação vão ser substituídos tanto numa pista como na outra [17-35] e, para além disso, temos trabalhos de preparação para, no futuro, podermos, também na outra pista, ter opções de baixa visibilidade”, detalhou.
Aos jornalistas, Rui Alves recusou-se a avançar com o impacto financeiro desta paralisação total, e sublinhou que o aeroporto reconhecido consecutivamente pela sua qualidade está a preparar o futuro e garantir a segurança da infraestrutura, matérias bem mais importantes que o impacto económico da intervenção.
Assegurou ainda, quando questionado, que quaisquer constrangimentos, que também disse desconhecer, são da responsabilidade dos operadores com quem, reiterou, vinham conversando desde janeiro.
É o caso de um grupo de 10 pessoas que viajou para o Senegal e que esta manhã chegou ao aeroporto do Porto vindo de autocarro, em vez de avião, de Vigo, Espanha.
A alternativa, explicou o passageiro Estefânio Gomes, causou transtorno: cerca de três horas a mais do que se viagem fosse feita diretamente para o aeroporto do Porto.
A empreitada representa um investimento de 50 milhões de euros.
Lusa