O trabalho, intitulado “COVID-19 Pandemic: Effect on Confidence Levels of Portuguese Towards People of Different Professions”, mediu a confiança dos portugueses em diferentes profissionais em dois momentos distintos da pandemia: julho e setembro de 2020.
Ao todo, participaram 1.455 portugueses entre os 19 e os 79 anos (44 anos, em média), e maioritariamente no sexo feminino.
De acordo com os dados disponibilizados, os médicos e os enfermeiros são os profissionais que merecem mais confiança dos portugueses (entre 43 e 44%), seguidos pelos investigadores (37%), farmacêuticos (35%), psicólogos (33%), professores e educadores (32%).
“Estes resultados podem ser justificados pelo papel desempenhado por estes profissionais durante a pandemia, especialmente pelos médicos e enfermeiros”, explica Miguel Ricou, em comunicado enviado à Lusa.
Do mesmo modo, as profissões ligadas à ciência, cujas práticas são baseadas na evidência, podem estar a merecer mais confiança, nesta crise pandémica, porque os portugueses precisam de “respostas que os façam sentirem-se seguros” e pelo papel da Saúde Pública perante as questões sanitárias.
Inversamente, este estudo revela uma redução da confiança dos portugueses nos políticos, nos dois períodos em causa, à semelhança do que está descrito noutros países.
As razões apontadas passam pela crise socioeconómica e pela impopularidade das medidas adotadas pelos governantes.
O nível de confiança nos jornalistas também baixou.
“É muito fácil atribuir culpas ao mensageiro”, considera Miguel Ricou, lembrando que as “teorias da conspiração” e fenómenos como a “desinformação” e as “’fake news’” podem explicar estes resultados, numa altura em que o jornalismo desempenhou um papel fundamental para informar a sociedade. “Confunde-se o mensageiro com a mensagem”, frisou.
Para o professor da FMUP, a solução para aumentar os níveis de confiança da população pode passar por mais ações conjuntas envolvendo profissionais de saúde, cientistas, políticos e jornalistas, quer a nível da tomada de decisão quer da comunicação das medidas a tomar.
Este estudo teve também a participação de Helena Pereira e Sílvia Marina ambas investigadoras da FMUP/CINTESIS, bem como de Tiago Pereira, da Ordem dos Psicólogos Portugueses, e de Ricardo Picoli, da Universidade de São Paulo, no Brasil.