Em declarações à agência Lusa, Davide Carvalho, da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo, que subscreveu o documento em nome de Portugal, adiantou que o ‘ESE White Paper’ representa a posição de mais de 20 mil endocrinologistas distribuídos por toda a Europa.
Um dos aspetos que este livro branco realça “é a importância dos disruptores endócrinos” que podem modificar as hormonas ou interferir na sua ação e em resultado disso causar alterações e problemas no desenvolvimento.
“Há vários estudos que sugerem que algumas destas substâncias químicas, que rompem o sistema endócrino, podem contribuir para o aumento da obesidade, mas podem também levar a alterações do desenvolvimento do organismo, causar puberdades precoces ou puberdade tardias, malformações dos genitais ou alterações da tiroide, explicou Davide Carvalho.
Durante a gravidez, a exposição aos disruptores endócrinos tem “consequências gravíssimas” como problemas no desenvolvimento do feto, eclampsia nas mães e até aborto, refere o documento, adiantando que os fetos expostos a estas substâncias podem ter problemas na infância e na idade adulta.
“A exposição dos bebés, nos primeiros seis meses de vida (através do leite materno ou dos biberons de água) pode determinar obesidade e diabetes no futuro”, alertam os especialistas.
Alguns estudos sugerem que os bebés que foram criados por mães que foram expostas a essas substâncias podem ter nas suas gónadas e transmitir aos filhos, afetando duas gerações.
Segundo Davide Carvalho, “a ação destas substâncias químicas é múltipla” e “por terem uma estrutura semelhante a algumas hormonas acabam por interferir e causar muitas dessas alterações”.
No documento é realçada uma estratégia que está a decorrer, denominada da “Quinta ao garfo”, porque muitas destas substâncias ou são pesticidas ou existem, por exemplo, nas películas que revestem as latas de refrigerantes, nas garrafas plásticas e nas embalagens com alimentos.
Também estão presentes em protetores solares, têxteis, sabonetes, cosméticos, que muitas vezes são utilizados sem grande qualidade, nomeadamente, pelas pessoas com menor nível socioeconómico que acabam por ser as mais afetadas, sublinhou.
Para combater esta situação, a Sociedade Europeia de Endocrinologia propôs, e já foi adotado dentro da estratégia, “o princípio da precaução”, que é “a inversão do ónus da prova”.
Até aqui bastava que não houvesse evidência que estas substâncias causavam mal, com o princípio de precaução “é necessária a prova de que são seguras”, explicou Davide Carvalho.
“Este foi um aspeto importante que resultou da intervenção, nomeadamente da Sociedade Europeia de Endocrinologia, e Portugal também teve um papel importante na medida que em contactos com o ministro do Ambiente há cerca de dois anos, conseguimos também contribuir para a consciencialização da população e neste caso do ministro para a importância da aprovação”, sublinhou.
Neste momento, já há vária legislação que está em vias de ser aprovada no sentido de limitar a utilização destas substâncias, salientou.
Segundo a sociedade europeia, o impacto económico dos disruptores endócrinos ronda, na Europa a 28, entre 157 e 270 mil milhões de euros por ano (entre despesas em saúde e lucros perdidos), o equivalente a 2% do PIB Europeu.
O documento defende que a Europa tem de assumir um papel central na produção, distribuição e exposição a estas substâncias, deve definir critérios claros para a identificação destas substâncias para evitar divergências entre estados-membros e incluir estas substâncias nos planos para o cancro