“Com um sentimento de esperança, mas também de alguma frustração, os trabalhadores da TAP vão assistindo, incrédulos, ao início dos voos das várias companhias que operam nos aeroportos nacionais, sem que, da parte da companhia nacional, haja qualquer notícia ou sequer um sinal que nos leve a pensar que a TAP também quer voar”, referiu o sindicato, na mesma nota.
O Sitava classificou a situação como “estranhíssima” e pediu que seja “bem explicada”.
O sindicato recordou as declarações do Ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, “na passada semana, onde foi anunciado oficialmente que estava aprovado o plano de ajuda de emergência à TAP”, referindo que desde essa altura que os trabalhadores esperam “a sua concretização”.
“Recorde-se que, nessa conferência de imprensa, foi dito que se esperava agora pela resposta dos acionistas privados às condições propostas pelo Estado Português, para que se concretize a referida ajuda de emergência”, indicou o Sitava.
O apoio terá um montante máximo de 1,2 mil milhões de euros.
“Entretanto, já passou mais de uma semana e parece que os acionistas minoritários não demonstram qualquer vontade de responder”, referiu o Sitava, referindo-se à Atlantic Gateway, de David Neeleman e Humberto Pedrosa, que detém 45% da TAP.
“Será que os acionistas minoritários não estão interessados na ajuda estatal de emergência? Ou apenas não estão de acordo com as condições propostas pelo Estado soberano?”, questionou o Sitava.
O sindicato disse ainda que “seria útil” conhecer estas propostas.
“Não nos parece aceitável que eventuais interesses minoritários estejam a bloquear a solução, e assim a agravar, ainda mais, o estado da tesouraria da empresa que, por sua vez, está a colocar em risco outras empresas do grupo e centenas de outros fornecedores nacionais, além de ameaçar diretamente a manutenção dos postos de trabalho e a subsistência de milhares de trabalhadores”, indicou o Sitava.
A estrutura sindical apelou ainda para que o Estado, dono de 50% da companhia aérea, “faça valer o bom senso” para que “se inicie rapidamente a retoma e a normalidade na atividade da empresa”.
O Sitava acusou ainda a TAP de “insuportável falta de consideração pelos trabalhadores e seus representantes”, salientando que “enquanto todas as empresas do setor, incluindo as do grupo TAP, reúnem com os sindicatos, aceitam sugestões destes e têm palavras de justificação e conforto para aqueles que sofrem há três meses os cortes salariais, na TAP nada disto acontece, antes pelo contrário”.
O sindicato disse que a TAP tem uma “atitude de clara sobranceria” e “limita-se a comunicar friamente, e por ‘e-mail’” com os trabalhadores.
“Soubemos também ontem [quinta-feira], através de mais um ‘e-mail’ (pois claro), que a TAP iria pagar os subsídios de férias a todos os trabalhadores que ainda os não receberam”, indicou o Sitava, que saúda a atitude, mas alertando que o “valor a pagar a cada trabalhador tem que ser o mesmo que seria se o subsídio fosse pago no momento em que estava planeado”, pedindo ainda “atenção às anuidades”, em cumprimento do acordo de empresa.
Na quarta-feira, o Ministro de Estado e das Finanças, João Leão, admitiu que o Estado poderá assumir uma posição acionista na TAP no âmbito de uma possível conversão de capital em ações, depois do programa de auxílio estatal à companhia.
"Uma vez terminado esse auxílio de emergência, segue-se o programa de reestruturação, e aí a TAP tentará encontrar novo capital e fazer um programa de reestruturação. Nesse quadro do programa de reestruturação, pode estar também em equação a conversão de parte do empréstimo do Estado em capital, e nesse caso o Estado também ficaria como acionista da TAP", disse João Leão em resposta ao deputado do PCP Duarte Alves no debate sobre o Orçamento Suplementar, referindo-se ao auxílio à TAP já aprovado pela Comissão Europeia.
Na terça-feira, o secretário de Estado do Tesouro, Miguel Cruz, já tinha instado a companhia aérea a apresentar um plano estratégico "com celeridade", e salientou que o próximo verão será importante para ter perspetivas sobre o futuro.
"O Estado preparou a notificação [à Comissão Europeia] em tempo recorde, em cerca de três semanas. Compete agora à empresa apresentar o seu plano estratégico com celeridade", disse o governante, que estava a ser ouvido, juntamente com a restante equipa governativa das Finanças, pela Comissão de Orçamento e Finanças do parlamento, no âmbito do Orçamento do Estado Suplementar.