Passada uma década da revolução de 25 de Abril de 1974, a Casa da Música da vila de Óbidos, no distrito de Leiria, viu reconhecido o seu lugar na história com o descerramento de uma placa evocativa da reunião ali realizada a escassos meses do golpe militar que depôs a ditadura de mais de 40 anos.
A placa passa despercebida aos milhares de turistas que diariamente visitam a vila medieval, mas o acontecimento foi escolhido pela Câmara de Óbidos para integrar a coleção “Essencial descobrir Óbidos”.
O número 14 da coleção tem por tema “1 Dezembro 1973 – Movimento dos Capitães” e reúne em livro as notas manuscritas do então capitão Vasco Lourenço, (que atualmente preside à Associação 25 de Abril) a quem coube a missão de moderar o encontro em que participaram “cerca de 180 oficiais, representando mais de 420”.
A reunião de Óbidos “viria a ser uma das principais reuniões conspirativas que nos levariam ao 25 de Abril”, escreveu Vasco Lourenço, no livro publicado em 2003, e que junta aos apontamentos do capitão fotos do militar Dinis de Almeida a indicar o caminho aos capitães que se dirigiam para a Casa da Música ou até, um ‘croqui’ com o percurso, desenhado à mão.
Daquela que foi uma das mais importantes reuniões antes da revolução, Vasco Lourenço guardou apontamentos dos “pontos fundamentais” ali definidos, como “o caminho a seguir para se atingirem os objetivos desejados”, escolhido entre três hipóteses colocadas a votação.
Entre dar ao Governo a oportunidade de se legitimar através de eleições livres, avançar com movimentações que levassem o Exército a pressionar o Governo ou avançar para a conquista do poder, as contas manuscritas de Vasco Lourenço dão nota da vitória desta última hipótese.
Da reunião saíram ainda outras decisões importantes, como o alargamento do Movimento dos Capitães a “todas as Forças Armadas” e a necessidade de “escolher um chefe”, partindo de sugestões como os generais Costa Gomes e António Spínola.
Dali saiu ainda eleita a Comissão Coordenadora que funcionaria até à revolução, constituída por 19 oficiais da Infantaria, Artilharia, Cavalaria, Serviço de Material, Engenharia, Administração Militar e Transmissões.
Depois de Óbidos, lembra Vasco Lourenço no livro, “o movimento consolidou-se, evoluiu de forma quase meteórica e… menos de cinco meses depois, aconteceu a liberdade”.
Lusa