Do período pós-revolucionário, com Ramalho Eanes, um general saído das fileiras militares para a Presidência, a Marcelo Rebelo de Sousa, o informal professor catedrático e ex-comentador político, as comemorações oficiais incluem, por regra, um desfile militar, um discurso do chefe do Estado e uma sessão de condecorações.
Na Guarda, três anos após a Revolução dos Cravos, António Ramalho Eanes inaugurou este modelo de comemorações com o discurso em que pediu a união de todos os portugueses – “porque o futuro é de todos” – e o esforço de todos para construir uma “nova era”.
“O desafio que enfrentamos não se vencerá sem calejar as mãos dos que trabalham. É um erro supor que as nações se constroem com grandes discursos políticos”, afirmou Eanes, citado pelo Diário de Lisboa desse dia, numa cerimónia em que também estava o primeiro-ministro e líder do PS, Mário Soares.
Nove anos passados, em 1986, era Presidente Mário Soares, que rumou a Évora, teve a seu lado Cavaco Silva, líder do PSD e chefe do Governo. Recém-eleito, Mário Soares afirmou aos portugueses: “Chegou o momento de sacudir o desânimo e a descrença.”
Novo salto no tempo e em 1996 foi a vez de Jorge Sampaio, sucessor de Soares, fazer a sua estreia no Dia de Portugal. Foi em Beja e nesse dia o novo Presidente da República pediu “consensos amplos” para “objetivos essenciais” – “reforçar as instituições, aprofundar as reformas, prestigiar a política e consolidar o próprio regime”.
Passados dez anos, em 2006, é Cavaco Silva que está no Palácio de Belém e foi ao Porto a 10 de junho para pedir aos portugueses para não se resignarem face às dificuldades do país.
“Isso seria indigno do nosso passado, um desperdício do nosso presente e o adiar do nosso futuro”, alertou.
Novo salto no tempo, e é agora outro social-democrata o Presidente em Belém. Marcelo Rebelo de Sousa dividiu o dia e as comemorações entre Lisboa e Paris, capital francesa, onde vivem milhares de emigrantes portugueses. Foi a primeira vez que as comemorações “viajaram” para fora das fronteiras.
Em Lisboa, defendeu que foi o povo português, "sempre o povo", quem assumiu o papel determinante quando o país foi posto à prova, lutando por ele, mesmo quando as elites falharam.
Em Paris, ouviu o então presidente François Hollande a elogiar o país e os portugueses – “Portugal honra a França” – e, aos emigrantes portugueses, disse-lhes que são "dos melhores de todos".
Para a história, ficarão não só as “selfies” presidenciais com os portugueses como as fotos em que Marcelo falava a emigrantes portugueses, debaixo de chuva, e o primeiro-ministro, António Costa, o abrigou da água com um guarda-chuva.
"Estão a ver o que é a colaboração entre os dois poderes? Mas vejam bem, quem tem o guarda-chuva é o senhor primeiro-ministro de esquerda, quem é apoiado é o Presidente que veio da direita", disse Marcelo, sorridente.
Apesar de ter começado a ser comemorado, nestes moldes, em 1977, o decreto-lei que institucionalizou o Dia de Portugal a 10 de junho – dia em que “se aglutinam em harmoniosa síntese a Nação Portuguesa, as comunidade lusitanas espalhadas pelo Mundo e a emblemática figura do épico genial” – só foi publicado em 02 de março de 1978.
Desde 1977, o Dia de Portugal já foi assinalado na Guarda, Portalegre, Vila Real, Leiria, Funchal, Figueira da Foz, Lisboa, Viseu, Porto, Évora, Covilhã, Ponta Delgada, Braga, Tomar, Sintra, Coimbra, Lagos, Chaves, Aveiro, Beja, Angra do Heroísmo, Bragança, Guimarães, Setúbal, Viana do Castelo, Santarém, Faro, Castelo Branco, Elvas, Lamego e Paris (França), Porto e Brasil (São Paulo e Rio de Janeiro).
LUSA